Ciência
16/09/2019 às 10:30•2 min de leitura
Ao se deparar com o exemplar de angelim vermelho (Dinizia excelsa) de 88 metros de altura – a mais alta árvore da Amazônia já registrada –, o professor Eric Bastos Gorgens se surpreendeu: "As árvores altas são mais propensas à quebra e à queda, seja por vento ou por não aguentarem o próprio peso". Por que essa cresceu tanto é uma incógnita.
Para o pesquisador em Modelagem de Ecossistemas e Dados Climáticos da Universidade de Oxford Sami Rifai, “o fato de terem sobrevivido por tanto tempo e crescido tão alto deve ser, pelo menos em parte, graças ao seu distanciamento absoluto das áreas urbanas e da indústria”.
O angelim gigante talvez não seja o único. A Amazônia pode esconder muitas dessas árvores colossais. Segundo o pesquisador de Ecologia e Conservação Florestal na Universidade de Cambridge Tobias Jackson, "encontramos pelo menos 15 árvores gigantes, algumas superando facilmente 80 m. Surpreendentemente, todas eram angelins vermelhos. Ainda não sabemos como essas árvores conseguiram crescer tanto.”
A expedição de 30 pessoas (entre elas, pesquisadores das universidades brasileiras, britânicas e finlandesas) percorreu 220 quilômetros de barco e 10 quilômetros a pé em mata fechada para achar a árvore dentro da Floresta Estadual do Parú (uma unidade de conservação estadual), no Pará, bem longe de focos de incêndios.
"O risco de queimada aqui é praticamente zero. A árvore está numa região cercada por dois grandes afluentes do Amazonas, os rios Parú e Jari. Devido ao difícil acesso, a região não é visada por madeireiros, agropecuaristas nem garimpeiros, até o momento", explicou Gorgens.
A altura da árvore é um recorde para a Amazônia brasileira, que ainda não tinha registrado nenhuma árvore com mais de 70 metros de altura. Ela foi descoberta através da análise de 850 áreas de floresta distribuídas aleatoriamente, mapeadas e digitalizadas a laser pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre 2016 e 2018. Foram analisados 594 conjuntos de árvores; destes, sete mostraram evidências de ter espécimes com mais de 80m de altura.
A pesquisa que resultou no encontro da árvore colossal sugere que o nordeste da Amazônia poderia reciclar muito mais carbono do que se pensava anteriormente. Cada angelim vermelho tem capacidade de armazenar até 40 toneladas de carbono (o mesmo que 300 a 500 árvores menores).