Ciência
04/05/2020 às 13:00•2 min de leitura
Foi publicado hoje (04) na revista científica Nature um artigo de autoria de pesquisadores da Utrecht University, Erasmus Medical Center e da Harbour BioMed (HBM) em que afirmam ter identificado um anticorpo monoclonal totalmente humano que evita a infecção de uma cultura de células pelo SARS-CoV-2, o vírus responsável pela covid-19.
A descoberta significa, na prática, a possibilidade de bloqueio do coronavírus por meio de um anticorpo totalmente humano que poderia tratar e prevenir a doença respiratória que já infectou mais de 3,3 milhões de pessoas no planeta, matando mais de 235 mil. O anticorpo, conhecido como 47D11, tem como alvo os terríveis "espinhos de proteína" do vírus.
Testes já realizados em ratos revelaram que o anticorpo protetor se prende à proteina mortal e impede que ela se ligue e penetre nas células humanas, o que representa a neutralização do vírus. Para os pesquisadores, se o 47D11 for injetado diretamente na corrente sanguínea, será capaz de não apenas mudar o "curso da infecção" de uma pessoa já infectada, mas também proteger uma não infectada que esteja exposta a alguém com o vírus.
Fonte: Berend-Jan Bosch/Reprodução
Segundo o holandês Berend-Jan Bosch, da Utrecht University, a pesquisa se baseia no trabalho feito no passado em anticorpos direcionados ao SARS-CoV-1 que foi responsável por uma pandemia de síndrome respiratória aguda grave ocorrida também na China em 2002. Mas garante que o anticorpo é capaz de igualmente neutralizar a ação do SARS-CoV-2, pois são ambos da mesma "família" de coronavírus.
O professor de microbiologia celular Dr. Simon Clarke, da Universidty of Reading, que não participou desta pesquisa, anunciou que "anticorpos desse tipo podem ser sintetizados em laboratório em vez de depurados dos sangue de pessoas, e poderiam teoricamente ser utilizados no tratamento da doença, embora isto ainda não tenha sido demonstrado".
A empresa de biotecnologia norte-americana Harbour BioMed forneceu o anticorpo humano utilizado na experiência, obtido através da tecnologia transgênica num rato geneticamente modificado para conter genes humanos sem que fosse necessários testes em seres humanos.
O fundador da empresa, Dr. Jingsong Wang, reconhece que, para avaliar se esse anticorpo pode, na prática, proteger ou reduzir a gravidade da doença em humanos, será necessário muito trabalho. E conclui: "embora seja um desenvolvimento interessante, a injeção de anticorpos em humanos não é isenta de riscos e carece de ensaios clínicos adequados".