Estilo de vida
19/06/2020 às 05:00•2 min de leitura
Imagine um animal com 54 pernas, sendo que cada uma delas é equipada com cerca de 15 espinhos que mais parecem com lâminas de facas. Essa é a descrição de uma descoberta recente: o Xiaocaris luoi, um camarão que viveu há 518 milhões de anos, no período cambriano. As suas características o tornam um tanto monstruoso, mas seu tamanho é de apenas dois centímetros.
A explicação dada por Javier Ortega-Hernández, um dos pesquisadores responsáveis pela pesquisa, para a quantidade de “facas” nas pernas do animal é que, muito provavelmente, elas serviam como uma ferramenta evolutiva, uma vez que podiam ser usadas para destruir a matéria orgânica, como de vermes e restos de animais macios.
Representação artística do Xiaocaris luoi. (Fonte: Xiaodong Wang; Liu, Ortega-Hernández/BMC Evolutionary Biology)
Outro aspecto interessante observado pelos equipe é que a quantidade de pernas do camarão cambriano nunca antes foi observada em outro artrópode, seja vivo ou extinto.
As estranhezas não ficam apenas nisso. A cabeça do animal era coberta por uma espécie de protetor semelhante ao formato de um bumerangue. Além disso, ele contava com a assistência de duas antenas finas que o ajudavam a avaliar o ambiente físico no qual se encontrava e, possivelmente, se a composição química da região era adequada para sua sobrevivência. Para se proteger dos predadores, um exoesqueleto resistente era a grande arma de defesa.
Detalhes do Xiaocaris luoi foram revelados por meio de tomografia computadorizada. (Fonte: Xiaodong Wang; Liu, Ortega-Hernández/BMC Evolutionary Biology)
O fóssil onde estava o Xiaocaris luoi foi descoberto há algumas décadas, em 1980. Porém, na época, imaginava-se que continha apenas uma única espécie denominada de Jianshania furcatus. Entretanto, quando os pesquisadores voltaram a estudar o material mais recentemente, por meio de tomografia computadorizada, a novidade surpreendeu a equipe.
Os chamados fósseis de Chengjiang foram extraídos de uma região montanhosa na província chinesa de Yunnan. O local é considerado especial para pesquisas, pois a biota foi excepcionalmente preservada, garantindo que a anatomia dos tecidos duros e moles de uma série de microrganismos — vertebrados e invertebrados — pudesse ser estudada de maneira mais profunda.
Diagrama das dezenas de pernas cobertas de espinhos. (Fonte: Xiaodong Wang; Liu, Ortega-Hernández/BMC Evolutionary Biology)
Os fósseis, entre os quais está o camarão cambriano, comprovam não apenas a existência de um ecossistema marinho complexo, mas também uma intensa diversificação da vida na Terra há 530 milhões de anos .