Artes/cultura
20/07/2020 às 02:00•2 min de leitura
Em um novo artigo científico originalmente publicado na revista Nature, pesquisadores da Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia) descobriram bactérias que podem metabolizar o manganês, um tipo de metal muito utilizado na fabricação de ligas de aço e que é um dos elementos mais abundantes na superfície do planeta Terra.
"Outras bactérias que também se alimentam de metal já haviam sido descobertas, como a Halomonas titanica, que leva esse nome por ter sido encontrada no casco do que sobrou do navio Titanic. No caso desse organismo, saliências que lembram a ferrugem são produzidas quando ele se adere ao metal. Já a bactéria recém-descoberta — que ainda não tem nome oficial —, realiza um processo diferente: alimenta-se do resíduo de manganês, aquele que conhecemos por escorrer das pilhas e baterias quando "vazam".
As bactérias tendem a ter preferências bastante incomuns na escolha de seus alimentos, indo desde sobras de comida até fontes termais oceânicas profundas, já que nem todas precisam de ar pra sobreviver, ou podem também se alimentar de metal e de tecido humano, ou "carne viva". Assim, constantemente descobrimos maneiras diferentes que elas usam para obter sua energia.
Compostas por duas espécies diferentes, as bactérias que foram descobertas ao acaso poderiam usar o metal e produzir energia para sustentar e crescer nos ambientes mais desafiadores. Apesar de os cientistas preverem isso há mais de um século, esta é a primeira bactéria a usar manganês na quimiossíntese — espécie de fotossíntese bacteriana — que faz com que o organismo em questão produza matéria orgânica por meio da oxidação de substâncias minerais sem ter que recorrer a luz solar.
Estrutura celular de uma bactéria. (Fonte: Alunos Online)
Jared Leadbetter, professor de microbiologia ambiental do Caltech e coautor do artigo, abandonou em seu escritório uma jarra com água e manganês por meses. O conjunto fazia parte de um experimento anterior, onde usara giz de manganês e o líquido direto da torneira. Ao retornar de sua ausência, deparou-se com a jarra revestida por uma substância preta e imediatamente pediu para sua equipe avaliar o conteúdo.
Com os testes, eles descobriram que as duas novas espécies de bactérias que viviam na água da torneira, nesse período, metabolizaram o manganês residual criando o subproduto preto identificado como óxido de manganês.
Algumas bactérias oxidam o manganês e produzem, a partir da já citada quimiossíntese, o óxido de manganês, mas o funcionamento desse metabolismo nunca havia sido revelado, ou seja, não sabíamos ainda como a bactéria gerava essa substância. O experimento foi essencial para essa descoberta.
Metal contaminado poderia ser decomposto por bactérias. (Fonte: Stocksnap)
Segundo o professor Leadbetter, em comunicado da Caltech, essas são as primeiras bactérias encontradas a usar manganês como fonte de combustível. Um dos aspectos importantes relativos aos micróbios na natureza é que eles podem decompor materiais aparentemente improváveis, produzindo energia útil para as reações de síntese metabólica.