Estilo de vida
27/07/2020 às 11:00•2 min de leitura
Enquanto o mundo acompanha ansiosamente o desenvolvimento das vacinas que podem colocar um fim na pandemia provocada pelo novo coronavírus, uma pergunta começou a surgir em centros de pesquisa e hospitais: a reinfecção é possível? A resposta para ela é: não sabemos.
Em abril, a Coreia do Sul detectou o vírus no sangue de centenas de pacientes que estariam curados da doença. A conclusão a que chegaram as autoridades da Saúde do país é que se tratava de fragmentos inativos do vírus que ainda circulavam pelo organismo.
Brasil já apresenta casos
Porém, esse não foi apenas um caso; outros já foram relatados, sempre com o mesmo roteiro: o paciente tem alta, recupera-se, mas os sintomas reaparecem algumas semanas depois e, assim, o teste para a covid-19 dá positivo.
Em Minas Gerais, um técnico de enfermagem foi diagnosticado com covid-19 em abril e se curou, mas o teste dele deu positivo novamente no fim de junto, o homem morreu 10 dias depois. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas está investigando o caso de 2 pacientes na mesma situação: doentes em maio e voltaram a testar positivo para a doença este mês.
Casos de reinfecção preocupam a comunidade médica porque atingem um conceito caro em se tratando de doenças infecciosas: a chamada imunidade do rebanho ou coletiva, em que 60% ou mais indivíduos de um grupo, depois de contraírem a doença, tornam-se imunes a ela e interrompem as cadeias de transmissão. Se a imunidade contra a covid-19 durar pouco, o vírus continuará a circular.
O primeiro estudo sobre o assunto foi divulgado no início de julho pelo King’s College, respeitada universidade pública inglesa. A pesquisa testou diversas vezes, entre março e junho, a resposta imune de 96 pacientes e profissionais da Saúde.
A curva descendente mostra a quantidade de anticorpos detectados no organismo dos pacientes recuperados; os pontos coloridos indicam o grau de severidade da infecção.
Os pesquisadores descobriram que os níveis de anticorpos contra o Sars-CoV-2 atingiram o pico cerca de três semanas após o início dos sintomas, mas decaíram rapidamente nas semanas seguintes.
Embora 60% dos participantes tenham produzido uma resposta imunológica no auge da doença, apenas 17% guardavam os mesmos níveis de anticorpos depois de 3 meses. Além disso, eles se mostraram maiores e mais duradouros em pessoas que sofreram casos mais graves da covid-19; nos casos leves, eram quase indetectáveis.
A imunização contra a covid-19 pode ter que entrar no calendário anual de vacinação do planeta.
“Se isso acontece com a própria infecção, a vacina potencialmente fará a mesma coisa. Uma dose somente pode não ser o bastante", disse a principal autora do estudo, a bioquímica Katie Doores.
Enquanto chegam do mundo inteiro relatos (poucos, mas crescentes) de pacientes que, aparentemente, foram reinfectados, o consenso no meio científico é que pegar a doença “logo de uma vez” não é a resposta, principalmente por conta da lista de sequelas (como lesões permanentes em pulmões, rins, coração, fígado e cérebro). Outra linha de pesquisa investe nas chamadas células T como forma de produzir a imunidade contra a doença.
“É importante que o público entenda que se infectar com esse vírus não é uma coisa boa. O estudo do King’s College confirmou um crescente corpo de evidências de que a imunidade à covid-19 tem vida curta. Mais importante, ela põe 'outro prego no caixão' do perigoso conceito de imunidade de rebanho”, disse Jonathan Heeney, virologista da Universidade de Cambridge, ao jornal The Guardian.
É possível se reinfectar com o novo coronavírus? via TecMundo