É possível remover o ferro do seu sangue com uma fonte magnética?

15/08/2020 às 04:003 min de leitura

Vamos discutir aqui um assunto muito importante: os ímãs. Sim, esses corpos que geram um campo magnético ao seu redor. Ainda que você não seja, digamos, atraído pelo assunto, é impossível evitá-los pois eles estão em toda parte, desde a porta da geladeira (nos lembretes e na própria porta), no micro-ondas, em algumas televisões, na case do seu fone sem fio e até no disco rígido do seu computador.

O ímã natural foi primeiro observado na Grécia Antiga, em uma ilha chamada Magnésia, onde descobriram o tal mineral capaz de atrair pequenos objetos de ferro. Devido ao nome do local, o mineral recebeu o nome de magnetita, também conhecido como óxido de ferro.

O ferro está presente em nossa vida: temos entre 4 a 5 gramas do mineral no sangue. Além de bom para a imunidade e para o coração, ele é essencial para a oxigenação, pois está presente na hemoglobina, aquela parte vermelha do sangue, para transportar o oxigênio para as células e retirar o dióxido de carbono.

O ferro está presente na hemoglobina (Fonte: HB Pharmacy/Reprodução)O ferro está presente na hemoglobina (Fonte: HB Pharmacy/Reprodução)

O ferro do nosso corpo poderia ser removido com um ímã superforte?

Primeiramente, precisamos entender por que os ímãs atraem o ferro. Nos átomos, os elétrons e o núcleo estão sempre girando num movimento chamado spin. Como eles giram em sentidos diferentes na maioria dos materiais, não existe magnetismo porque o movimento de um compensa o do outro.

Porém, nos ímãs e no ferro, os átomos próximos giram todos num mesmo sentido, criando minúsculos campos magnéticos. Se o ferro se aproximar de um ímã, o movimento de rotação dos átomos passa a se direcionar no sentido daquele magneto e, o que é mais curioso, mesmo depois que o retiramos, os átomos do ferro mantêm a mesma orientação.

Quando esse fenômeno acontece, o ferro fica magnetizado e se transforma num ímã permanente. Existem outros metais que têm essa propriedade ferromagnética, como o níquel, o cobalto e o gadolínio, um elemento químico do grupo das terras raras utilizado para fazer contraste em exames de ressonância magnética.

Maior ímã do mundo (Fonte: National High Magnetic Field Laboratory/Reprodução)Maior ímã do mundo (Fonte: National High Magnetic Field Laboratory/Reprodução)

Os ímãs ultrafortes

Para criar um ímã potencialmente ultraforte, capaz de sugar o ferro do sangue, teríamos que recorrer a um eletroímã. Nesse dispositivo, um campo magnético é criado através da aceleração de uma carga elétrica. Muita gente deve se lembrar das aulas de Física na escola quando fazíamos uma corrente elétrica passar um prego.

A intensidade do campo magnético é medida em Gauss, sendo que 10 mil Gauss equivalem a um Tesla. Só para compreender essa intensidade, vamos registrar que a força do campo magnético da superfície da Terra fica entre 0,25 e 0,6 Gauss. Dá para manipular a agulha de uma bússola e orientar um pombo-correio.

Quando construímos um eletroímã, o campo magnético fica mais forte quanto maior for a corrente elétrica passando pela bobina. Mas aí temos um problema, porque os fios que estão enrolados na bobina, embora condutores, têm um pouco de resistência, o que transforma a corrente elétrica em calor, como nas torradeiras. 

Para contornar o problema, são utilizados materiais supercondutores, mantidos em uma temperatura superfria através de nitrogênio líquido ou hélio, para conduzir corrente elétrica sem resistência e criar campos magnéticos incrivelmente fortes.

Um ímã poderoso do dia a dia

Um exemplo de ímã supercondutor é a máquina de ressonância magnética (MRI) que utiliza a combinação de campos magnéticos (que podem chegar a 94 mil Gauss) e ondas de rádio para gerar imagens de órgãos do nosso corpo.

Aqui temos um exemplo de como uma fonte magnética pode causar danos ao paciente, pois o aço que normalmente é usado em pinos, marca-passos, placas e outras peças protéticas do corpo contém ferro ferromagnético. Esses implantes poderiam ser violentamente arrancados e voariam em várias direções durante uma ressonância.

No filme O Grande Dave, Eddie Murplhy é de metal (Fonte: Medgif/Reprodução)No filme O Grande Dave, Eddie Murplhy é de metal (Fonte: Medgif/Reprodução)

E isso nos leva à pergunta que não quer calar: e se, por acaso, você encontrasse uma mulher com um tipo de beleza mística, ou um homem altamente magnético, que o(a) fizesse ingerir uma grande quantidade de ferro, um ímã desse tipo poderia tipo destripar a sua pessoa?

Fiquem tranquilos, pois a resposta é não. O ferro se decompõe rapidamente no intestino delgado, para poder ser usado no corpo. E, mesmo que permaneça em seu estômago para ser absorvido, não causará nenhum tipo de desastre. 

Além disso, o material fica muito disperso no corpo, não sendo capaz de causar um problema similar ao que ocorre na máquina de ressonância. E, finalmente, uma boa (ou má) notícia: se você ingerisse uma quantidade de ferro capaz de causar um efeito ferromagnético, você sofreria um envenenamento.

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