Ciência
19/08/2020 às 11:00•2 min de leitura
Observar uma galáxia tão distante quanto a recém-descoberta SPT 0418-47 é um trabalho complexo. Afinal, os cientistas não estão olhando o objeto em tempo real: a luz que eles receberam da galáxia agora, em 2020, na verdade é de 12 bilhões de anos atrás. A galáxia SPT 0418-47 é uma das mais antigas e distantes de que se tem notícia.
Como se isso não fosse surpreendente por si só, os cientistas também descobriram que a SPT 0418-47 (nome complicado, não?) é muito diferente do que eles esperavam para uma galáxia tão antiga: ela já tem um disco giratório e um bulbo galáctico, mais ou menos como a Via Láctea. Só faltam os longos braços característicos da galáxia que chamamos de casa.
Talvez, olhando para a foto abaixo, a primeira imagem divulgada da SPT 0418-47, você esteja se perguntando onde estão o disco e o bulbo — afinal, só dá para ver um anel de luz. Isso porque o objeto está tão distante que os cientistas só puderam observá-lo por meio de uma lente gravitacional — quando a luz de um objeto é distorcida e ampliada pela gravidade outros corpos próximos. Isso foi obra da rede de radiotelescópios ALMA (Atacama Largue Millimeter/submilimeter Array), que fica no deserto de mesmo nome
Fonte: European Southern Observatory
Mas os cientistas também fizeram uma imagem reconstruída de como a SPT 0418-47 realmente é, a partir de novas técnicas de modelagem computacional. Veja:
European Southern Observatory
A grande questão, na descoberta da SPT 0418-47, é que ela já apresentava um disco bem formado e estável, como a Via Láctea, apenas 1,4 bilhão de anos após o Big Bang — as teorias atuais estimam que são necessários uns 6 bilhões de anos para isso. Ou seja, pode existir uma outra forma, mais rápida, para as galáxias se formarem.
Esse questionamento começou a circular com mais força depois da descoberta do Disco de Wolfe, em maio: esse é outro objeto parecido com a Via Láctea que também tem 12 bilhões de anos. A SPT 0418-47 é mais uma amostra de que é possível uma galáxia se formar mais rapidamente do que se pensava.
Mas como isso acontece (ou melhor, aconteceu)? As teorias mais aceitas, até agora, dizem que objetos como o Disco de Wolfe e a SPT 0418-47 se formaram a partir de galáxias menores, em processos bastante violentos. Os cientistas também observaram que elas formam estrelas em um ritmo extremamente alto — isso mostra que, mesmo estáveis, elas tem uma enorme energia em seu interior.
A partir de agora, a observação desses dois objetos recém-descobertos permitirá aos cientistas expandir o conhecimento sobre a formação das galáxias e entender melhor o que aconteceu na origem do nosso universo. Vamos ver o que vem por aí!