A Fortaleza de Sargão: a redescoberta de uma capital esquecida

23/12/2024 às 18:002 min de leituraAtualizado em 23/12/2024 às 18:00

Durante séculos, a antiga capital assíria Dur-Sharrukin — ou “Fortaleza de Sargão” — foi considerada um projeto inacabado, abandonado após a morte de seu criador, o rei Sargão II. Mas uma recente pesquisa magnética mudou essa narrativa, revelando que a cidade no atual norte do Iraque era muito mais desenvolvida do que se pensava. 

Liderada pelo geofísico Jörg Fassbinder, uma equipe internacional de pesquisadores descobriu, sem necessidade de escavações, uma infraestrutura impressionante sob o solo de Khorsabad, onde Dur-Sharrukin foi erguida.

Um "raio-x" do terreno

Ilustração do que seria o (Fonte: GettyImages/ Reprodução)
Ilustração do que seria a Fortaleza de Sargão. (Fonte: GettyImages/ Reprodução)

Construída em 713 a.C. para ser um símbolo do poder assírio, Dur-Sharrukin deveria ser a nova capital do império. No entanto, a morte inesperada de Sargão em 705 a.C. levou seu sucessor, Senaqueribe, a transferir a capital para Nínive, deixando Dur-Sharrukin à mercê do tempo. 

Desde o século 19, arqueólogos exploraram o local, mas acreditavam que apenas o palácio real havia sido concluído. Esse cenário permaneceu até 2022, quando a equipe de Fassbinder utilizou um magnetômetro para revelar segredos enterrados por mais de dois milênios.

Trabalhando em condições adversas e carregando manualmente o equipamento para evitar atenção indesejada, os pesquisadores mapearam cerca de 7% do local em apenas sete dias. O magnetômetro, uma espécie de “raio-X” do subsolo, detectou variações magnéticas que indicavam a presença de estruturas ocultas. 

As imagens geradas revelaram contornos de uma cidade surpreendentemente complexa, incluindo cinco edifícios monumentais, um portão de água e possíveis jardins reais. Entre as descobertas mais impressionantes está uma vila de 127 cômodos — o dobro do tamanho da Casa Branca — que contradiz a ideia de que a cidade não havia sido habitada.

Novo cenário

Lamassu, divindade protetora de Khorsabad. (Fonte: Wikimedia Commons/ Reprodução)
Lamassu, divindade protetora de Khorsabad. (Fonte: Wikimedia Commons/ Reprodução)

Os resultados dessa pesquisa questionam a ideia de que Dur-Sharrukin era um canteiro de obras abandonado e oferecem pistas sobre a vida cotidiana e a organização urbana além do complexo palaciano. Especialistas destacam a importância do estudo para entender o Império Neoassírio, já que, até então, o conhecimento sobre essas capitais vinha quase exclusivamente de estruturas associadas ao rei, deixando lacunas sobre os outros habitantes.

A metodologia não invasiva também representa um marco para a arqueologia moderna. Escavações são caras e destrutivas, tornando o sensoriamento remoto uma alternativa eficaz para explorar e preservar patrimônios históricos em regiões politicamente instáveis. Em Khorsabad, por exemplo, os danos causados pela ocupação do Estado Islâmico em 2015 dificultaram o acesso ao local até 2017, quando foi possível retomar os estudos.

O que acontece agora é uma pergunta em aberto. Embora os dados magnéticos tenham fornecido um vislumbre fascinante, Fassbinder e sua equipe confirmaram a existência de uma estrutura “muito substancial” ao escavar uma pequena vala de teste, mas não há planos para explorações mais extensas. 

Ainda assim, as descobertas indicam que Dur-Sharrukin foi uma cidade vibrante, mesmo que brevemente, e reafirmam a riqueza e complexidade do legado assírio.

Seja pelos jardins do palácio, pelo portão de água ou pela monumental vila de 127 cômodos, Dur-Sharrukin não é mais apenas um sonho interrompido de Sargão II. Graças à tecnologia moderna e à perseverança de cientistas, a antiga fortaleza emerge como um testemunho da grandiosidade de um dos maiores impérios da antiguidade.

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