Ciência
26/12/2024 às 12:00•2 min de leituraAtualizado em 26/12/2024 às 12:00
Imagine um animal do tamanho de um husky-siberiano, com dentes caninos longos e afiados, mas sem pelos ou orelhas externas. Esse predador peculiar, que vagava pelas planícies tropicais do supercontinente Pangeia entre 280 e 270 milhões de anos atrás, é agora identificado como o mais antigo representante conhecido dos chamados gorgonopsianos.
Essa descoberta, realizada na ilha de Maiorca, no Mediterrâneo, preenche uma lacuna significativa na história evolutiva dos terapsídeos, o grupo de antigos parentes dos mamíferos ao qual pertencem os gorgonopsianos.
O novo fóssil surpreendeu paleontólogos tanto pela idade — cerca de 5 a 10 milhões de anos mais velho que os registros anteriores — quanto pela quantidade de restos preservados. Fragmentos de crânio, costelas, vértebras e uma pata traseira quase completa permitiram uma análise detalhada do animal, que possuía características marcantes de um superpredador.
Além dos dentes-de-sabre, a posição vertical de suas pernas, semelhante à dos mamíferos modernos, indica que esse animal era um corredor eficiente, adaptado para perseguir presas como o Tramuntanasaurus tiai, um réptil herbívoro encontrado no mesmo sítio fóssil.
Embora não sejam ancestrais diretos dos mamíferos, os gorgonopsianos pertencem a um ramo evolutivo crucial. Eles fazem parte da linhagem dos terapsídeos, grupo que eventualmente deu origem aos mamíferos modernos.
As características compartilhadas incluem um orifício lateral no crânio, essencial para a fixação dos músculos da mandíbula, e estruturas que mais tarde evoluíram para os ossos do ouvido interno, uma marca registrada dos mamíferos.
A descoberta também oferece pistas sobre como esses animais se diversificaram e dominaram seus ecossistemas, especialmente após a chamada Extinção de Olson, um evento ocorrido há cerca de 273 milhões de anos que abriu espaço para a evolução de novos grupos.
Este gorgonopsiano de Maiorca, com seus dentes afiados e corpo ágil, é uma evidência de que os terapsídeos estavam se adaptando rapidamente e assumindo papéis ecológicos variados muito antes da chegada dos dinossauros.
A descoberta dos fósseis em uma região tropical desafia hipóteses anteriores sobre a distribuição geográfica desses antigos predadores. Na época dos gorgonopsianos, Maiorca fazia parte de Pangeia, com condições climáticas possivelmente favoráveis à sua diversificação. Isso indica que outras descobertas importantes podem estar ocultas em regiões semelhantes ao redor do mundo.
Os cientistas ainda enfrentam desafios para determinar com precisão a identidade dessa nova espécie, devido à fragmentação dos fósseis. No entanto, a análise inicial é clara: trata-se de um dos primeiros exemplos de adaptação dos terapsídeos às condições ambientais, incluindo sua evolução como predadores de topo.
Esse fóssil não é apenas um lembrete do vasto e estranho mundo pré-dinossauros, mas também uma peça fundamental para compreender nossas próprias origens. Afinal, muito antes de os primeiros mamíferos surgirem, seus antepassados mais distantes já estavam pavimentando o caminho, experimentando formas e funções que moldariam a história evolutiva.