Ciência
26/12/2024 às 15:00•2 min de leituraAtualizado em 26/12/2024 às 15:00
Um fóssil com 47 milhões de anos, encontrado no que hoje é o estado de Utah, nos Estados Unidos, está desafiando tudo o que sabíamos sobre plantas antigas. A espécie, agora chamada de Othniophyton elongatum, não se parece com nada que exista atualmente na Terra, abrindo um novo capítulo na história das plantas com flores.
Descoberto originalmente em 1969, o fóssil foi, por muito tempo, classificado na família do ginseng, graças ao formato de suas folhas que lembravam as de plantas desse grupo. Mas novas evidências, reveladas a partir de um estudo detalhado publicado recentemente, mostram que essa planta pertence a uma família completamente extinta. "Isso nos faz perceber que a história das plantas é muito mais complexa do que imaginávamos", disse o paleobotânico Steven Manchester, do Museu de História Natural da Flórida.
Os primeiros fósseis da planta vieram da Formação Green River, um tesouro do período Eoceno, rico em fósseis de animais e plantas. Inicialmente, cientistas pensaram que as folhas encontradas eram compostas, semelhantes às de parentes do ginseng. Mas tudo mudou com a descoberta de novos fósseis, contendo ramos inteiros com frutos, folhas e outros detalhes cruciais.
"É raro encontrar fósseis tão completos, com frutos e folhas conectados ao galho", explicou Manchester. Essa descoberta permitiu uma análise mais aprofundada, revelando que as folhas não eram compostas e que a planta apresentava características únicas, como frutos que mantinham estames (parte masculina da reprodução) intactos, algo inédito em plantas modernas.
Com o auxílio de um microscópio avançado, os pesquisadores puderam examinar até mesmo as sementes dentro das frutas fossilizadas. O resultado? Nada parecido com plantas vivas ou fósseis conhecidos. Nem mesmo comparações com plantas da mesma era geológica trouxeram respostas claras.
Esse mistério botânico levou os pesquisadores a renomearem a planta para Othniophyton elongatum, que significa “planta alienígena alongada” em grego e latim. A conclusão? Ela pertence a uma família extinta que pode ter adotado estratégias de sobrevivência que não resistiram às mudanças climáticas e ecológicas ao longo de milhões de anos.
Além de abrir novas portas para o estudo da evolução vegetal, a descoberta é um lembrete importante sobre a ciência. "Não podemos forçar as evidências para caberem em categorias pré-estabelecidas", disse Manchester. "Muitas vezes, a natureza nos surpreende com algo totalmente novo."
Com fósseis como esses, cientistas podem aprender mais sobre como as plantas floresceram, se diversificaram e, em alguns casos, desapareceram completamente. Para Manchester e sua equipe, o estudo é uma lição de humildade e curiosidade científica – um lembrete de que sempre há algo mais para descobrir, mesmo em um ramo tão antigo quanto as plantas.