Área de testes de Semipalatinsk: desastre na União Soviética

25/08/2020 às 15:003 min de leitura

Foi em meados de 1910 que a Rússia deu início aos estudos sobre elementos radioativos, valendo-se de uma pesquisa feita por Vladimir Vernadsky acerca dos depósitos de urânio encontrados em 1905 no país. No entanto, a comunidade científica só foi discutir a possibilidade de uma bomba atômica depois que o físico Otto Hahn e o químico Fritz Strassmann descobriram a fissão nuclear, em 1939.

Suspeitando que os Estados Unidos estavam em pleno desenvolvimento de uma arma nuclear, o russo Georgy Flyrov enviou uma carta a Josef Stalin pedindo permissão e recursos para iniciar um programa soviético para o desenvolvimento de uma bomba atômica em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial.

(Fonte: TheAltWorld/Reprodução)
(Fonte: TheAltWorld/Reprodução)

A invasão alemã à União Soviética em 1941 retardou o processo de produção da bomba, pois grande parte dos cientistas foi convocada para o desenvolvimento ou aprimoramento de outros equipamentos essenciais para os conflitos, assim como aconteceu com a produção têxtil nos Estados Unidos no início da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isso, uma comunidade pequena de físicos ficou encarregada de continuar a explorar os efeitos do urânio em uma bomba atômica.

Em outubro daquele ano, Pyotr Kapitsa descobriu que as perspectivas para uma bomba de urânio eram muito promissoras. Em adição a isso, os líderes soviéticos souberam, através de agentes infiltrados, que os EUA e a Alemanha já estavam avançados na construção de suas armas letais.

Em fevereiro de 1943, o físico Igor Kurchatov e o diretor político Lavrenti Beria começaram oficialmente o seu programa nuclear.

O Polígono

(Fonte: Pinterest/Reprodução)
(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Tendo como base o Chicago Pile-1, primeiro reator nuclear artificial criado pelos EUA, em meados de 1948 a União Soviética conseguiu fazer o próprio reator de produção funcionar. Beria, que era chefe do programa de armas atômicas e braço direito de Stalin e estava à frente do projeto, começou a procurar um local para instalar a área de testes de bombas atômicas.

Ele estava em busca de uma cidade fechada longe o suficiente principalmente dos olhos de possíveis espiões de potências inimigas, ainda mais com a Guerra Fria atingindo o seu ápice. Desde 1940, a União Soviética usava esses locais para desenvolvimento militar e científico ultrassecreto, por isso não apareciam em mapas e tinham as fronteiras cercadas, para que só o alto escalão do governo tivesse acesso.

Beria encontrou uma região a nordeste da então República Socialista Soviética do Cazaquistão, que era uma das 15 entidades governadas pelo Kremlin. Com 18,5 mil quilômetros quadrados e nomeado como Polígono, Beria considerou o local "desabitado", mas na verdade ele estava a cerca de 120 quilômetros da cidade de Semipalatinsk (atual Semey), o coração industrial do Cazaquistão, que tinha população média de 200 mil habitantes na época e muitas áreas rurais posicionadas a uma curta distância de pequenas cidades.

Nuvens de morte

(Fonte: Science Photo Library/Reprodução)
(Fonte: Science Photo Library/Reprodução)

Em 29 de agosto de 1949, os soviéticos testaram com sucesso o primeiro dispositivo nuclear, chamado RDS-1. Até 1989, foram efetuadas 340 explosões subterrâneas e 116 atmosféricas que abriram centenas de crateras ao longo da planície. Os habitantes de Semipalatinsk não foram evacuados ou alertados, apenas serviram de cobaia para as precipitações radioativas que eram carregadas para o centro do Cazaquistão e da Sibéria russa.

As taxas de câncer dispararam e várias crianças nasceram com patologias neurológicas raras e graves deformidades ósseas, como a falta de membros. Cerca de 60 mil pessoas sofreram com doenças infecciosas oriundas da radiação e mais de 1,5 milhão delas ainda sofrem com os efeitos, segundo dados do Centro de Oncologia e Medicina Nuclear de Semey.

(Fonte: Nature/Reprodução)
(Fonte: Nature/Reprodução)

Além disso, desastrosas falhas levaram ao vazamento de materiais e gases radioativos no meio ambiente, atingindo a fauna e a flora. Anos mais tarde, a vaca Chupatka foi parte de um experimento para determinar os níveis de radionuclídeos em plantas na Área de Testes de Semipalatinsk e nos animais que as comiam, na tentativa de descobrir se o gado das regiões afetadas pela radiação ainda pode ter a carne abatida para consumo.

Reflexos de uma tragédia

(Fonte: Boston.com/Reprodução)
(Fonte: Boston.com/Reprodução)

Até 26 de abril de 1986, quando o reator 4 da usina de Chernobyl explodiu e espalhou radiação por milhares de quilômetros, o debate acerca dos prós e dos contras do programa de armas atômicas não era um tópico a ser discutido pelo governo da União Soviética.

Em 1989 foi criado o Movimento Antinuclear Nevada-Semipalatinsk, que definia um paralelo com o que os EUA faziam em Las Vegas com suas bombas atômicas. Já em decadência, em 19 de outubro de 1989, o Polígono explodiu a sua última ogiva nuclear e em 1991 foi desativado para sempre.

(Fonte: Alexia Foundation/Reprodução)
(Fonte: Alexia Foundation/Reprodução)

Mesmo após três gerações, as taxas de doenças ainda são muito altas. Os pesquisadores oncológicos de Semipalatinsk afirmam que a prevalência de cânceres no leste do país é 50% superior à média nacional, sendo os tumores de mama e de pulmão os mais frequentes. Além de leucemia, infertilidade e depressão, 1 em cada 20 crianças ainda nasce com deformidades. Especialistas apontam que há doenças infecciosas e distúrbios hematológicos na região.

Sendo uma das áreas mais pobres do Cazaquistão, poucas pessoas conseguiram se mudar da cidade depois que ela entrou no mapa e os testes foram encerrados. Aqueles que ficaram dependem de colheitas e água contaminada para sobreviverem, arriscando-se nas ruínas do Polígono para conseguir sucata para vender, apesar dos índices críticos de radiação.

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