Artes/cultura
22/09/2020 às 11:04•2 min de leitura
A revista científica Science Advances publicou, na última quarta-feira (16), um artigo sobre o veneno da árvore com ferrão da Austrália, uma espécie vegetal que é capaz de produzir picadas terrivelmente dolorosas, que podem durar dias ou até semanas.
A gigantesca árvore australiana, que pode chegar a 35 metros de altura, pertence ao gênero botânico Dendrocnidea da mesma família das urtigas, e cresce ao longo das encostas e ravinas das florestas tropicais do leste da Austrália. No entanto, diferentemente de suas evitadas parentes, a Dendrocnide excelsa, popularmente chamada de Gympie-Gympie, é capaz mandar um ser humano direto para a UTI.
Existem relatos locais sobre animais que, após contato com as árvores Gympie-Gympie, tiveram que ser sacrificados tamanha a agonia proporcionada pelo veneno da perigosa planta, cujas toxinas, chamadas no novo estudo de "gimpietidas" em homenagem ao nome da árvore, são semelhantes à toxina do veneno de aranha.
Em um comunicado à imprensa, a dra. Irina Vetter, professora da Universidade de Queensland e uma das autoras do artigo, explicou que a Gympie-Gympie "é coberta por apêndices semelhantes a agulhas chamados tricomas, que têm cerca de cinco milímetros de comprimento".
Esses tricomas, conforme a cientista, "parecem cabelos finos, mas na verdade agem como agulhas hipodérmicas que injetam toxinas quando fazem contato com a pele ”. A atividade dessas toxinas foi atribuída inicialmente a neurotransmissores de moléculas pequenas e mediadores inflamatórios, mas somente esses compostos não dariam conta de explicar os efeitos da dor devastadora.
O que o novo estudo mostrou foi que o veneno da dendrocnidea australiana contém peptídeos indutores da dor, em tudo semelhantes ao de animais na forma como se dobram em suas estruturas moleculares 3D e que têm como alvo os mesmos receptores de dor, o que torna a Gympie-Gympie uma verdadeira "planta peçonhenta".
Mas o que mais impressiona, segundo a autora do estudo, é que a dor lancinante ocorre de forma prolongada não porque os pelos finos ficam presos na pele como se pensava, mas sim porque as gimpietidas têm uma propriedade de mudar permanentemente os canais de sódio nos neurônios sensoriais.