Ciência
14/10/2020 às 12:00•2 min de leitura
Há 4 bilhões de anos, a Lua tinha um campo magnético 2 vezes mais forte do que é o da Terra hoje. Como ela foi capaz de gerar uma magnetosfera tão forte tendo um núcleo tão pequeno ainda é um mistério não solucionado, mas uma pesquisa agora publicada aponta um ancestral dínamo central como a causa da magnetização da crosta da Lua.
A Lua já produziu uma magnetosfera mais intensa do que a da Terra atual.
“Existem 2 hipóteses antigas: uma é que a magnetização da crosta da Lua é resultado de um dínamo antigo no núcleo lunar; a outra, que ela é o resultado de uma amplificação do campo magnético interplanetário, aumentado pelo impacto de meteoroides”, disse uma das autoras do estudo, a física e cientista planetária Katarina Miljkovic, da Curtin University.
A equipe de Miljkovic trabalhou com estimativas numéricas dos impactos do bombardeio de um grande meteoroide na Lua há cerca de 4 bilhões de anos.
Segundo a cientista planetária, a pesquisa “é um estudo numérico profundo que põe por terra a teoria sobre os meteoroides. Descobrimos que o plasma gerado pelo impacto desses corpos interage muito mais fracamente com a Lua em comparação com os níveis de magnetização obtidos da crosta lunar. Essa descoberta nos leva a concluir que um dínamo central é a única fonte plausível de magnetização da crosta lunar”.
A cientista planetária explica que “meteoroides atingiram velozmente a Lua, causando deslocamento, derretimento e vaporização da crosta lunar. Calculamos a massa e a energia térmica geradas por esses choques, e o resultado foi usado para investigarmos como o campo magnético ambiente na Lua se comportou depois desses grandes impactos, o que desmente a hipótese mais antiga”.
Meteoroides não são os responsáveis pela crosta da Lua ser magnetizada (em primeiro plano, a grande cratera Goclenius).
As simulações de impacto e do comportamento do plasma da Lua permitiram à equipe reproduzir os mecanismos de evolução da Lua há muito propostos. Descartar hipóteses pode simplificar o processo para determinar o que magnetizou a Lua e até mesmo outros objetos no Sistema Solar que também têm crostas magnetizadas – cujas causas ainda são inexplicáveis.
“Além da Lua, Mercúrio e outros pequenos corpos planetários têm uma crosta magnética. Talvez outros dínamos equivalentes ao da Lua também pudessem estar agindo nesses objetos”, disse a física e cientista computacional do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) Rona Oran, principal pesquisadora do trabalho publicado pela Science Advances.
Há anos sabe-se que a Lua já teve um campo magnético maior do que o da Terra, mas não se conhece as razões de ele ter desaparecido há 1 bilhão de anos. Em janeiro, pesquisadores do MIT determinaram possíveis causas.
A Lua já esteve muito mais perto da Terra, e a força gravitacional do planeta teria agitado o núcleo líquido do satélite, criando o dínamo que geraria seu campo magnético. Com o distanciamento entre planeta e satélite, o efeito da gravidade se enfraqueceu, o dínamo perdeu sua força e o núcleo da Lua cristalizou. O processo extinguiu o campo magnético lunar.
O distanciamento progressivo entre Terra e Lua levou ao resfriamento e à cristalização do núcleo lunar.
Pesquisadores da NASA ainda descobriram evidências de que a superfície da Lua é mais rica em metais do que se pensava e que ela contém hematita, uma forma de ferrugem que normalmente requer oxigênio e água – elementos em falta no satélite.
Magnetização da crosta da Lua é o que resta de seu dínamo central via TecMundo