Artes/cultura
11/11/2020 às 06:00•2 min de leitura
Segundo estudo publicado na revista Sciences Advances, pesquisadores encontraram, durante escavações no sítio arqueológico Wilamaya Patjxa, localizado nos Andes peruanos, restos mortais de uma adolescente caçadora pertencente a uma antiga sociedade americana, datada de 9 mil anos atrás. A documentação evidencia a relevância da mulher em sua tribo, assim como a divisão de tarefas e papéis entre os gêneros.
Com idade estimada entre 17 e 19 anos, uma jovem andina, que viveu entre os períodos Mesolítico (13.000 a.C. – 9.000 a.C.) e Neolítico (5.000 a.C. e 3.000 a.C.), foi encontrada em meio a outros cinco esqueletos de caçadores, e foi enterrada com diversos instrumentos de caça e coleta, aparentemente utilizados pela mulher em suas atividades diárias.
Entre as ferramentas da caçadora, foram identificados itens de combate à distância, como projéteis de pedra para serem lançados através de um propulsor, rochas maiores que aparentemente tinham a função de quebrar ossos de animais abatidos, e pedras menores no formato de pontas de lanças para cortar carne e arrancar peles.
“Todas essas coisas juntas nos disseram que se tratava de um kit de ferramentas de caça”, disse Randall Haas, arqueólogo da Universidade da Califórnia e um dos líderes do projeto. “Isso foi realmente surpreendente para nós… Dada a nossa compreensão do mundo, que nas sociedades de caçadores-coletores os machos caçavam e as fêmeas coletavam ou processavam recursos de subsistência.”
Ao redor dos restos da adolescente, foram encontrados vestígios de animais de médio e grande porte como veados, alpacas e outros, sugerindo que a mulher também contribuía nas expedições envolvendo mais riscos. “Achamos que as pessoas estavam engajadas em mais práticas de caça em grupo”, disse Shannon Tushingham, diretora do Museu de Antropologia da Universidade Estadual de Washington. “Faria sentido se homens, mulheres e crianças despachassem esses grandes animais.”
A descoberta da caçadora dos Andes confronta uma das principais teorias sobre a participação de gênero nas atividades das sociedades ancestrais. Por décadas, acreditava-se na predominância de grupos masculinos nas principais atividades de caça e confronto, porém, segundo o estudo, em alguns grupos, todos desempenharam papéis importantes na formação das tribos, sem distinção clara entre fatores sociais.