Ciência
19/02/2021 às 14:00•3 min de leitura
Todos os anos, astrônomos atualizam o risco de o asteroide Apophis (oficialmente, 99942 Apophis) se chocar com a Terra, através das medições do efeito Yarkovsky (um impulso minúsculo, mas significativo, que a luz do Sol dá aos asteroides que circulam pelo nosso sistema). A medida tem como objetivo prever, com cada vez mais acurácia, o quão perto chegarão, em 2068, o planeta e a rocha de 350 metros de diâmetro.
Haverá antes desse mais dois encontros: em 2029 e em 2036 – em ambos, os astrônomos já descartaram o apocalipse. Mesmo a passagem do Apophis na segunda metade deste século tem uma chance em 380 mil de produzir um impacto (em porcentagem, isso significa que há 99,99974% de chance de o asteroide errar a Terra). Para refinar essa estimativa, na próxima passagem do Apophis pelas vizinhanças, a partir de março deste ano, os astrônomos usarão o telescópio espacial infravermelho NEOWISE da NASA.
Segundo um de descobridores do asteroide, o astrônomo Dave Tholen, do Observatório Nacional Kitt Peak, “já sabemos há algum tempo que um impacto com a Terra não acontecerá durante a aproximação de 2029. As novas observações no início deste ano mostram que o asteroide está se afastando de uma órbita puramente gravitacional em cerca de 170 metros por ano – ainda assim, insuficiente para descartamos o cenário de impacto de 2068”.
Em 2029, ele estará visível a olho nu. “Será uma oportunidade incrível para observarmos o asteroide com telescópios ópticos e de radar – com estes últimos, poderemos ver características de apenas alguns metros de tamanho em sua superfície”, disse a cientista de radar do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA Marina Brozovic.
A previsão é que o planeta inteiro mire na rocha espacial para estudar em detalhes seu tamanho, a forma, sua composição e mesmo o que há em seu interior, já que, em 13 de abril de 2029, ele estará mais próximo da Terra do que jamais outro asteroide esteve (à exceção, é claro, daqueles que caíram aqui): menos de 32 mil quilômetros da superfície do nosso planeta.
Quando foi descoberto, seu potencial de dizimar a civilização humana foi provavelmente o incentivo para que os astrônomos dessem ao asteroide o nome da divindade egípcia que personificava o caos, representada por uma serpente maligna. Desde 19 de junho de 2004, quando Tholen e mais os astrônomos Roy Tucker e Fabrizio Bernardi avistaram o Apophis pela primeira vez, ele é acompanhado de perto.
Sua trajetória alcança, no ponto mais distante de nós, 2 UA (uma unidade astronômica equivale à distância entre a Terra e o Sol). Sua órbita cruza a da Terra todos os anos – por isso, ele é classificado como um asteroide “Atens”, grupo que reúne os corpos cujas órbitas são menores em largura do que a largura da órbita da Terra, ou 1 UA.
(Em 2029, com sua aproximação da Terra, ele alargará sua trajetória e, por isso, será promovido a outro grupo, conhecido como “Apollo”, dos asteroides cuja órbita é maior que 1 UA.)
Além de estar perigosamente dando rasantes nas proximidades da Terra, o Apophis ganhou este nome por sua composição: ele é do tipo S (pedregoso) – em outras palavras, rochoso, de uma mistura de níquel metálico e ferro, ideal para provocar o fim do mundo (pelas imagens captadas pelo Radiotelescópio de Arecibo, ele parece um amendoim espacial, com dois lóbulos em uma forma alongada).
Há muito ele vaga pelo espaço: estima-se que ele seja o que restou da formação de nosso sistema solar, há 4,6 bilhões de anos. Seu ponto de partida foi o cinturão de asteroides que existe entre Marte e Júpiter, saindo para vagar entre os planetas, sendo empurrado de um lado para outro pela influência gravitacional dos grandes planetas (Júpiter, principalmente). O resultado é que, agora, ele orbita o Sol nas vizinhanças da Terra e espera-se que, em sua passagem por aqui, ele não decida ficar de vez.