Kabwe: a cidade da África mais tóxica do mundo

22/06/2021 às 11:012 min de leitura

Localizada na Zâmbia (África Oriental), a cidade de Kabwe, com seus 300 mil habitantes, é considerada a mais tóxica do mundo, conforme a pesquisa do Blacksmith Institute – uma instituição que monitora a poluição nos países em desenvolvimento.

É a segunda maior cidade do país, tendo sido a maior mina de chumbo da África depois que foram descobertos os depósitos do elemento, por volta de 1902. No entanto, a constante mineração e fundição não regulamentada do chumbo, liberado por meio de rolos de fumaça das chaminés das estatais (fechadas em 1994), cobriu o solo da cidade de poeira carregada de partículas de metais pesados. A potente neurotoxina afeta principalmente as crianças, que engolem o produto enquanto brincam no chão empoeirado, sem contar as doses que envenenaram os lençóis freáticos e foram parar na água consumida pelas pessoas.

Um estudo revelou que a dispersão de chumbo, cádmio, cobre e zinco por meio dos processos de fundição se estendeu pelo solo de Kabwe. Os níveis de contaminação ultrapassam o recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A morte silenciosa

(Fonte: Pulitzer Center/Reprodução)(Fonte: Pulitzer Center/Reprodução)

“Posso dizer que, tendo estado em provavelmente 20 pontos de acesso tóxico em todo o mundo, a escala em Kabwe é sem precedentes”, revelou o professor Jack Caravanos, especialista em Saúde Ambiental da Universidade de Nova York. “Existem milhares de pessoas afetadas nessa cidade, não centenas como em outros lugares”, ele afirmou.

Richard Fuller, diretor do Blacksmith Institute, confirmou isso ao afirmar que os problemas ambientais causaram até 20% das mortes nos países em desenvolvimento, sendo que os danos atingiram diretamente as crianças. O chumbo é responsável por causar Transtornos de Déficit de Atenção (TDA), paralisia, mortes, deficiência auditiva e de desenvolvimento mental; além de que, em mulheres grávidas, o metal pode atravessar a placenta e colocar em risco a vida do feto. Uma vez no organismo, a substância permanece pelo resto da vida.

(Fonte: Civil Engineer/Reprodução)(Fonte: Civil Engineer/Reprodução)

“Eu fico muito triste, especialmente pelas crianças, porque consideramos elas nossos futuros líderes e, se elas não receberem uma boa educação, elas não serão capazes”, ressaltou Barry Mulimba, facilitador comunitário.

De acordo com a revista The Lancet, quase todas as crianças nascidas em países industrializados entre 1960 e 1980 foram expostas a quantidades substanciais de chumbo do petróleo, que pode ter reduzido em 50% o índice de QI. Essas crianças estudadas apresentaram até 300 microgramas por decilitro de chumbo no organismo, enquanto o nível não deveria exceder 15 microgramas por decilitro.

Consequência eterna

(Fonte: Interferencia/Reprodução)(Fonte: Interferencia/Reprodução)

Em entrevista à IRIN, a moradora da região Matildah Muyunda, que cuida de seus dois netos, revelou que seus filhos desenvolveram erupções cutâneas graves que os cobriram com bolhas, como a catapora. Sem conseguir comer por 2 dias, eles foram encaminhados ao hospital, e os médicos informaram que era consequência do envenenamento por chumbo. As bolhas só desapareceram após duas semanas, e sem que eles tomassem nenhum tipo de medicação.

Até a última testagem, o solo de Kabwe marcou 245 mil microgramas de chumbo por decilitro, dos quais 38 mil decilitros foram encontrados nos quintais residenciais. O limite de segurança recomendado é de no máximo 2 mil microgramas por decilitro, o equivalente a 0,2%.

Mesmo após 27 anos, o trabalho epidemiológico em Kabwe mal começou. Os funcionários que coletaram os dados de envenenamento por chumbo nunca os divulgaram, e o governo se recusa a falar sobre o assunto mesmo com a população perecendo lentamente.

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