Artes/cultura
04/07/2021 às 10:00•4 min de leitura
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Nos últimos anos, os testes de DNA começaram a se popularizar não apenas para verificar a paternidade, mas como uma ferramenta importante para descobrir a ancestralidade, possíveis doenças hereditárias, além de outras características que podem melhorar o bem-estar do indivíduo que faz o sequenciamento genético. Contudo, quais são os limites desses testes? Eles são realmente confiáveis?
Empresas americanas dizem em suas propagandas que o teste de DNA conta a história de quem você é, conectando populações ao redor do mundo. Inclusive, algumas empresas já fizeram parceria com companhias de viagem e turismo para ajudar os clientes a planejarem as férias conforme sua ancestralidade.
No país, é possível adquirir um teste a partir de R$ 100,00 e o valor máximo pode chegar a R$ 800,00. (Fonte: Pixabay/Reprodução)
Por meio dos testes de ancestralidade, é possível fazer o mapeamento genético e descobrir quem são os seus antepassados com um percentual de cada região que compõe seu DNA. Além disso, há empresas que oferecem ferramentas de busca parentes, em que é possível encontrar pessoas que compartilham trechos de DNA semelhantes ao seu.
No Brasil, os testes de ancestralidade começaram a se popularizar recentemente, mas nos Estados Unidos, segundo o MIT Technology Review, mais de 26 milhões de pessoas já haviam feito o teste até 2018.
Gêmeos idênticos têm DNA virtualmente idêntico. Ou seja, na teoria, os testes de DNA de ancestralidade deveriam obter o mesmo resultado, certo? Na teoria sim, mas na prática não.
De acordo com uma investigação realizada pela Canadian Broadcasting, gêmeos não costumam apresentar os mesmos resultados de uma única empresa. A investigação também percebeu que a ancestralidade pode diferir de uma empresa para outra.
Em um teste realizado por uma empresa, um gêmeo tinha 13% de representatividade “amplamente europeia” enquanto o outro gêmeo mostrou apenas 3% dessa mesma ancestralidade. Os gêmeos ainda fizeram testes com outras cinco marcas e cada uma apresentou um resultado diferente. Então, o que explica essas diferenças?
No geral, as discrepâncias apresentadas nos testes de ancestralidade não significam que a ciência genética é uma fraude ou que as empresas inventam números. O que ocorre é uma limitação científica e algumas suposições que as empresas fazem ao analisar o DNA para ancestralidade.
Quando as marcas vão realizar a análise genética, elas decompõem a ancestralidade dizendo que alguém é 25% italiana, 75% do leste asiático e assim por diante. O que nem sempre fica claro para o usuário é que os relatórios se baseiam em estimativas e que podem conter erros. Além disso, conforme os laboratórios coletam mais resultados de outros usuários, esses dados podem mudar. Então, o que significa dizer que você é 40% grego?
Para responder essa pergunta é importante entender todo o processo. Primeiramente, há a coleta para o exame — é possível fazer a análise via saliva, fio de cabelo ou sangue.
Nós temos 3 bilhões de pares de bases, que são instruções de letras individuais no nosso código genético, compondo o genoma humano. Quando essa amostra chega até a empresa, ela não analisa cada uma dessas letras.
Como os seres humanos possuem cerca de 99,9% do DNA em comum, para acelerar o processo, os pesquisadores procuram as localizações no genoma onde as pessoas geralmente variam umas das outras.
Falando em termos científicos: em pontos do nucleotídeo, que é uma molécula que forma a metade de um par de bases, eu posso apresentar a base adenina e você timina, que são estruturas do DNA. Essas mudanças em uma única letra ajudam a explicar porque uma pessoa é alta e outra é baixa e uma tem cabelo escuro e outra claro. Cientificamente isso se chama polimorfismos de nucleotídeo único ou SNPs.
As empresas podem analisar meio milhão de SNPs ou mais em um teste de ancestralidade. (Fonte: Freepik/Reprodução)
Depois que a empresa recebe a amostra, ela precisa extrair o DNA. O DNA extraído é alimentado por uma máquina chamada matriz de genotipagem que mostra quais versões de SNPs foram herdadas e em qual local do genoma ele está.
Os SNPs são transmitidos de geração em geração, por isso, quanto mais tivermos em comum com outra pessoa, maior será a probabilidade de compartilhar uma ancestralidade comum. Assim, a ancestralidade é estimada comparando os seus resultados de SNP com um banco de dados genético de ancestrais conhecidos.
Aqui está a primeira fonte possível de diferença nos testes. Embora elas tenham precisão, cerca de 99,9%, há possibilidades de erro. Em um milhão de análises, mil erros podem surgir e esses erros podem estar ligados às diferenças dos gêmeos citados no início do texto. Já as diferenças que surgem entre empresas deve-se ao fato de que cada marca analisa os dados de uma forma, baseado em seus próprios bancos com grupos de referência distintos.
As próprias empresas admitem que com o passar do tempo os bancos de dados vão ficando mais robustos e as taxas de análise vão modificando as referências. Outro ponto é que os grupos de referência são autointitulados e nem sempre as empresas têm dados de pessoas de todos os cantos do mundo. Ou seja, quando há uma limitação de diversidade geográfica e étnica, os algoritmos fazem suposições.
Além disso, conforme as gerações vão avançando, não necessariamente o próximo na árvore genealógica receberá toda a carga genética do seu ancestral. Assim, em algum momento, uma geração pode não possuir nenhum DNA de um ancestral.
Portanto, é importante saber que nem tudo sobre a história de uma família é geográfico ou poderá ser mensurado em um teste de DNA.
O teste faz o mapeamento genético e te mostra suas ancestralidades. Você pode fazer o teste em casa, por saliva, e mandar para o laboratório analisar.