Estilo de vida
20/07/2021 às 09:30•3 min de leitura
Era 24 de agosto de 1992 quando o Furacão Andrew atingiu em Miami a categoria 5 na Escala Saffir-Simpson após ter se formado há 8 dias no norte das Bahamas, tornando-se o furacão mais devastador da história da Flórida. O estrago causou mais de US$ 25 bilhões em danos, gerando 44 mortes e dezenas de milhares de casas e edifícios destruídos com os ventos que atingiram até 280 km/h. Seu impacto determinou o momento como os Estados Unidos passariam a lidar com o fenômeno dali em diante.
“O Furacão Andrew foi a tempestade que mudou a forma como lidamos com os furacões nos Estados Unidos”, disse o meteorologista Bryan Norcross, atualmente especialista sênior em furacões no The Weather Channel.
De acordo com ele, o sistema de gerenciamento foi totalmente reformulado e o surgimento dos códigos de construção de furacões que são usados atualmente. Além disso, a passagem do Andrew foi a que teve seu impacto melhor medido na época, e determinou muito do que os especialistas sabem sobre furacões devastadores.
Destruição causada pelo Furacão Andrew.
No entanto, o Andrew pode ser considerado também apenas uma pedra em um "oceano" de mudanças ao longo da histórica relação dos furacões no Atlântico com os Estados Unidos, cujos impactos moldaram a sociedade americana de inúmeras maneiras.
Em entrevista ao The Smithsonian Magazine, o escritor Eric Jay Dolin, autor de Furious Sky: The Five-Hundred-Year History of America’s Hurricanes, disse que os furacões mudaram questões culturais, políticas e a forma como a sociedade lida com as preocupações que enfrenta, como o movimento pelos direitos das mulheres, o racismo e a evolução da televisão.
Tudo teria começado em 1502, quando Cristóvão Colombo se tornou o primeiro europeu a emitir uma previsão do tempo no Novo Mundo ao avistar uma tempestade imensa no Caribe, responsável por afundar 24 navios de sua frota ao largo de Hispaniola.
Furacão Galveston de 1900. (Fonte: NPS/Reprodução)
Teria sido dois furacões que atingiram as ilhas do Caribe com uma diferença de semanas em 1780, com o segundo chamado de "O Grande Furacão", que causou a morte mais de 17 mil pessoas. Esses dois eventos ajudaram os Estados Unidos a conquistarem sua independência, visto que contribuiu para a decisão francesa de retirar seus navios do Caribe na temporada de furacões seguinte, coincidindo com eles navegando para o norte e se juntando à Batalha de Yorktown.
Conforme a população do país se expandiu ao longo da Costa do Atlântico e do Golfo, os cientistas procuraram aprender mais sobre como prever os caminhos dessas tempestades para poder defender as cidades contra elas. O físico Joseph Henry foi o primeiro secretário do Smithsonian Institution, responsável por criar o primeiro mapa meteorológico em tempo real que não servia para rastrear furacões, mas foi usado para indicar o movimento das tempestades na metade oriental dos Estados Unidos através de dados fornecidos por operadores de telégrafo.
Em 1847, Henry contribuiu para moldar definitivamente o mundo como conhecemos ao estabelecer um sistema de observações meteorológicas estendidas para resolver o problema das tempestades.
Furacão Katrina de 2005. (Fonte: The Atlanta Journal/Reprodução)
No âmbito social, enquanto a tecnologia não era aprimorada e disseminada por Henry, as pessoas passaram a se virar da maneira como podiam para prever que um furacão estava por vir. Ao longo do Golfo do México, os habitantes locais sabiam quando uma tempestade estava vindo só pela maneira como as lagostas se moviam. O Furacão Galveston de 1900, que matou mais de 6 mil pessoas no Texas, inspirou a construção de um paredão de cimento imenso para tentar barrar a força dos ventos.
Em Cuba, um padre chamado Benito Viñes se tornou famoso por ser um especialista em prever furacões no final do século XIX, coordenando seus esforços com os Estados Unidos após ter seus sinais ignorados pelo desprezo que o governo tinha pelos cubanos.
Foi devido aos furacões destruidores que os Estados Unidos desenvolveram aparelhagens cada vez mais tecnológicas ao longo dos anos, com radares e satélites com maior precisão e confiabilidade que ajudam os meteorologistas, conseguindo prever as tempestades até 5 dias antes de se formarem.
Furacão Maria de 2017. (Fonte: Pinterest/Reprodução)
De acordo com Dolin, as tempestades tendem a aumentar em frequência e gravidade à medida que as mudanças climáticas causarem o aquecimento dos oceanos, e que a ciência deixa isso cada vez mais claro para o mundo.
Para o homem, deve ser levado a sério a redução das emissões de carbono, mas também impedir novos desenvolvimentos ao longo da costa dos Estados Unidos e impor padrões de construção mais rígidos nas áreas costeiras contra as mudanças que estão por vir.
“Precisamos ter alguma humildade quanto ao nosso lugar na trama da vida e no mundo”, ressaltou Dolin.