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25/07/2021 às 10:00•3 min de leitura
É improvável pensar que a era da vacinação surgiria devido a uma vaca, mas foi a maneira que o médico inglês Edward Jenner encontrou em 1796, quando milhares de pessoas pelo mundo morriam à sombra da varíola.
Ele percebeu que havia algo de estranho na leiteira Sarah Nelmes, que não apresentava nenhum traço da doença, exceto por suas mãos enquanto ordenhava sua vaca chamada Blossom.
As pessoas chamaram aqueles vergões nas mãos de Sarah de "varíola bovina".
(Fonte: TimeToast/Reprodução)
Então Jenner decidiu coletar uma pequena amostra do pus das mãos de Sarah e injetá-la no braço de um garoto chamado James Phipps. Para espanto do médico, o garoto permaneceu extremamente saudável após receber uma alta carga viral no organismo.
De um experimento altamente antiético, nascia a oportunidade de fazer as pessoas pararem de morrer de doenças desconhecidas, com a varíola sendo a primeira delas. E do latim vacca, referindo-se ao animal, cunhou-se o termo "vacinação".
(Fonte: NZ Herald/Reprodução)
No final do século XVIII, a vacina se tornou uma sensação mundial para um cenário que sucumbia à doença desde o século III a.C, com o imunizante sendo acessível na Europa, Ásia e nas Américas. Os cientistas criaram reservas da vacina coletando pus dos animais infectados igual faziam com o poxvírus.
Hoje, as vacinas são produzidas em massa de maneira meticulosa e altamente segura, sendo que muitas delas são versões enfraquecidas do vírus ou sequências incompletas dos patógenos, conhecidas como vírus inativado, apenas para colocar o sistema imunológico em ação.
Como a vacina de Jenner com uma carga viral letal foi disseminada como cura, sendo que tinha a possibilidade de matar ainda mais a população?
Foi isso que o pesquisador Allan Watt Downie, da Universidade de Liverpool, se perguntou em 1939 enquanto estudava sobre o quanto a vacina contra a varíola poderia ter mudado com o tempo.
(Fonte: Wellcome Collection/Reprodução)
Comparando o conteúdo viral de uma vacina contra a varíola, conhecida até hoje como "linhagem vírus vaccínia", com uma amostra de varíola bovina isolada diretamente do gado, ele ficou surpreso ao descobrir que elas eram diferentes. Ele concluiu que era improvável que a vaccínia — atual vacina contra a varíola — descendesse da varíola bovina.
Alguns cientistas especulam que outro vírus chamado varíola equina, conhecido por infectar cavalos e vacas, pode ter sido o ancestral do vírus vaccínia. Inclusive o próprio Jenner refletiu sobre as origens equinas de sua droga milagrosa, sugerindo que a rota mais protetora da transmissão da vacina poderia ser do cavalo para a vaca e para o humano.
(Fonte: Science With Amy/Reprodução)
Apesar de suas origens, a vaccínia estava fazendo milagres, então os cientistas ignoraram esse desempenho e seguiram. Em maio de 1980, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou oficialmente que a varíola havia sido derrotada no mundo todo com a ajuda da vacinação.
No entanto, apesar de a doença estar erradicada, ainda existe a preocupação com um surto futuro, que deixaria a maioria da população global vulnerável a uma pandemia inesperada.
As estatísticas apontam que de 30 a 80% das pessoas expostas ao vírus podem ser infectadas, sendo que um terço delas morreriam devido à doença. Em julho de 2018, o Food and Drug Administration (FDA) aprovou o primeiro medicamento para tratar varíola, porém a vacina continua sendo a única outra ferramenta à disposição.
(Fonte: Wikimedia Commons/Reprodução)
Só existem dois laboratórios no mundo, na Rússia e o outro na sede do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), que possuem amostras do vírus da varíola, portanto criar uma vacina nova ou melhorada é considerado inviável e muito perigoso. Então usar um parente próximo menos virulento seria a saída para os pesquisadores obterem resultados positivos com segurança e eficácia.
Atualmente, cientistas do CDC coletam velhas vacinas contra a varíola em museus e laboratórios pelo mundo para analisar as sequências genéticas contidas nelas e poder rastrear a ancestralidade da vacina.