Rhus Glabra: a planta alucinógena encontrada em artefatos maias

25/08/2021 às 02:002 min de leitura

Conforme o livro The Prehistory of Psychoactive Drug Use, dos pesquisadores Edward Hagen e Shannon Tushingham, há milhares de anos os humanos usam plantas psicoativas que alteram o estado de consciência. Os pesquisadores sugerem que até os primatas usaram algum tipo de planta tóxica para se automedicar contra uma variedade de parasitas e outras infecções, experimentando efeitos colaterais acidentais, como a alucinação.

O empenho dos arqueólogos tem contribuído para a compreensão dessa predileção humana pelos psicoativos, e as relações homem-planta que datam de milhares de séculos, com povos do mundo todo usando tanto plantas como substâncias mais suaves, como o tabaco e o etanol.

(Fonte: Alchetron/Reprodução)(Fonte: Alchetron/Reprodução)

No litoral sul e no interior do Pacífico, no noroeste da América do Norte, cachimbos de pedra encontrados em sítios arqueológicos mostram que, há mais de 4,5 mil anos, pessoas fumavam naquela região. Desse modo, foi fumando que esses povos encontraram o melhor sistema para extrair os efeitos das substâncias das plantas.

A pesquisa da Universidade de Cambridge revela que foram encontrados tubos ou fragmentos de tubos em 60 locais no noroeste do Pacífico, bem como 56 artefatos usados por civilizações antigas com resíduos químicos.

A mistura maia

(Fonte: Live Science/Reprodução)(Fonte: Live Science/Reprodução)

Jennifer A. Loughmiller-Cardinal e Dmitri Zagorevsk documentaram vários objetos, como xícaras, tigelas, bandejas e tubos de rapé com resíduos de tabaco e outras substâncias tóxicas. Eles identificaram que os nativos americanos consumiam a Rhus glabra, também conhecida como sumagre liso, há 1,4 mil anos. A planta é nativa da América do Norte, do sul do Quebec (Canadá) e do nordeste do México.

Rhus Glabra. (Fonte: Oregon Live/Reprodução)Rhus Glabra. (Fonte: Oregon Live/Reprodução)

O sumagre liso foi comido como salada e misturado com tabaco para fins medicinais e também para melhorar o sabor da fumaça quando queimado. Em 2012, arqueólogos desenterraram um cachimbo em uma escavação em Washington (EUA) com evidências químicas de que uma tribo nativa americana havia fumado Rhus glabra. Neste ano pesquisadores da Universidade Estadual de Washington localizaram em Yucatán (México) 14 vasos de cerâmica confeccionados com ornamentos maias datados de mais de mil anos.

O resultado da raspagem para extração de material revelou uma mistura de tabaco seco e curado, a Nicotiana tabacum e a Nicotiana rustica, que eram misturados com a Tagetes lucida, conhecida como "calêndula mexicana", para aprimorar o fumo. Muito usada em pratos da culinária centro-americana, ela também tem fortes efeitos alucinógenos se consumida em quantidade.

A ciência

(Fonte: Sci-News/Reprodução)(Fonte: Sci-News/Reprodução)

Por meio do método de avaliação metobolômica feito nas cerâmicas maias, os pesquisadores descobriram que o recipiente foi usado para aquecimento e combustão do material presente nelas, que resultou em uma fumaça que causava efeitos psicológicos ainda mais intensos.

Com o estudo do material encontrado, o time de pesquisa do Dr. Mario Zimmermann, do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Washington, pôde se concentrar em como a preparação do tabaco era uma "janela" para os modos de consumo de drogas no mundo antigo.

(Fonte: Research Gate/Reprodução)(Fonte: Research Gate/Reprodução)

“Estamos expandindo as fronteiras da ciência arqueológica para podermos investigar melhor as relações de tempo profundas que as pessoas tiveram com uma ampla gama de plantas psicoativas que foram (e continuam a ser) consumidas por humanos em todo o mundo”, ressaltou Tushingham.

De acordo com ela, os arqueólogos só estão "arranhando a superfície de um iceberg" de práticas antigas e das maneiras engenhosas que as pessoas usavam, manipulavam e preparavam as plantas nativas.

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