Ciência
08/09/2021 às 02:00•3 min de leitura
Estima-se que no século XX mais de 500 milhões de pessoas morreram de doenças infecciosas, das quais dezenas de milhares foram devido a algum ato deliberado de bioterrorismo.
As armas biológicas são compostas de micro-organismos (como bactérias, vírus ou fungos) e toxinas (compostos tóxicos produzidos a partir de micro-organismos) encontrados na natureza que podem ser usados para matar ou ferir as pessoas.
A Segunda Guerra Mundial fez crescer a busca das nações por algum tipo de patógeno que pudesse garantir vantagem durante o conflito, com um poder destrutivo ainda maior, porém os atos de guerra biológica e química são seculares.
(Fonte: Lapham's Quarterly/Reprodução)
Apesar de a tecnologia ter desempenhado um papel importante na criação dessas armas de destruição, que mataram pessoas e infectaram territórios por anos, as tentativas de usar agentes biológicos surgiu na Antiguidade.
Em 400 a.C, os arqueiros citas infectavam suas flechas mergulhando-as em corpos em decomposição ou misturando sangue com esterco para atingir seus inimigos e adoentá-los. Os persas, gregos e romanos de 300 a.C listaram os animais que poderiam ser usados para contaminar poços e outras fontes de água — a tática secular conhecida como “envenenar o poço”.
(Fonte: Pinterest/Reprodução)
Durante a Batalha de Eurimedon, em 190 a.C, o estadista cartaginês Aníbal Barca conquistou a vitória naval sobre o Rei Eumenes I de Pérgamo atirando contra os navios inimigos em vasos de barro cheios de cobras venenosas. Ele foi o responsável por mostrar que o uso de armas biológicas nem sempre é através da manipulação de algum micro-organismo ou toxina de maneira direta, mas sim que o oponente seja atacado por qualquer coisa que cause sua morte por doença.
O imperador do sacro império romano-germânico Frederico I usou os cadáveres em decomposição avançada dos soldados para envenenar poços durante a Batalha de Tortona, no século XII.
No cerco de Kaffa, no século XIV, as forças tártaras arremessaram os corpos infectados pela peste bubônica na cidade, em uma tentativa de causar uma epidemia. Algo parecido aconteceu durante a guerra francesa e indiana no século XVIII, quando as forças britânicas sob a liderança de Sir. Jeffrey Amherst deram cobertores usados por vítimas da varíola aos nativos americanos para tentar dizimá-los.
(Fonte: Boxden/Reprodução)
Em 1887, o cientista Louis Pasteur e Robert Koch, um dos fundadores da microbiologia e responsável pela compreensão da epidemiologia das doenças transmissíveis, abriram a Fundação Pasteur. O centro de microbiologia ofereceu novas perspectivas para os interessados em armas biológicas porque permitiu que os agentes fossem projetados de forma racional.
O perigo de sua pesquisa, e como ela poderia ser usada para atentados biológicos em larga escala, resultou na Declaração de Bruxelas de 1874 e na Convenção de Haia em 1899, que proibiram o uso de armas de cunho envenenador. No entanto, nenhum dos tratados continham meios de controle, portanto não impediram os países de desenvolverem suas armas.
Com o início da Primeira Guerra Mundial, o exército alemão desenvolveu antraz, mormo, cólera e fungo do trigo para uso em ataques biológicos; chegando a espalhar, supostamente, a Peste em São Petersburgo, na Rússia.
(Fonte: UCL/Reprodução)
Para tentar barrar o desenvolvimento acelerado, a Convenção de Genebra de 1925 foi assinada por 108 nações, determinando o primeiro acordo multilateral que estendeu a proibição de agentes químicos ou biológicos durante a guerra. No entanto, mais uma vez o método de verificação não foi considerado.
Entre 1935 e 1945, a Unidade 731, estabelecida na Manchúria pelo Japão, expôs mais de 3 mil vítimas à Peste, ao antraz, à sífilis e a outros agentes na tentativa de aprimorá-los para sintetizar uma bomba.
Imediatamente em 1942, os Estados Unidos entraram para a corrida biológica ao instaurar o Serviço de Pesquisa de Guerra, em que cientistas investigaram o antraz e toxina botulínica para uso, estocando-os em junho de 1944 em caso de retaliação das forças alemãs.
(Fonte: History Collection/Reprodução)
Mas eles não pararam por aí. Entre as décadas de 1950 e 1960, o governo americano liberou em populações de várias cidades organismos considerados “inofensivos”, visando estudar a escala de contaminação — como fizeram na Operação Drop Kick.
O gás cloro causou lesão pulmonar; o gás mostarda resultou em bolhas pela pele; o gás sarin agiu no sistema nervoso das vítimas e as fizeram sangrar até à morte; o Agente Laranja causou mutação genética severa na Guerra do Vietnã; a ricina, substância extraída da mamona, colapsou os órgãos das vítimas em três dias.
Esses agentes foram explorados e usados em uma época em que não tem como comparar com o atual conhecimento da biologia. Portanto, o temor real é de que patógenos modificados possam causar devastação em uma guerra biológica no nosso século.