Ciência
26/10/2021 às 02:00•2 min de leitura
Até a década de 1930, quimicamente, a Terra era dividida em três camadas: a crosta, onde vivemos; seguida pelo manto superior e inferior, a camada mais espessa da Terra; e, mais ao fundo, o núcleo externo, feito de metal líquido quente derretido.
Só em meados de 1936 que o núcleo interno sólido, que ocupa cerca de 20% do raio total da Terra, composto de uma liga de ferro-níquel quase tão quente quanto a superfície do Sol, foi descoberta por uma sismóloga dinamarquesa chamada Inge Lehmann (1888-1993).
A mulher descobriu isso estudando o fenômeno mais antigo da Terra: os terremotos.
(Fonte: Terra/Reprodução)
Nascida em 13 de maio de 1888, em Copenhague (Dinamarca), Lehmann teve a sorte de frequentar a escola pedagógico-progressista liderada por Hanna Adler (1859-1947) — tia do famoso físico Niels Bohr (1885-1962) —, que tratava os alunos do sexo masculino e feminino com extrema igualdade. Esse tipo de respeito e tratamento era considerado muito incomum para a época, mas foi o que ajudou a fazer a mente brilhante da sismóloga decolar, preparando-a para sua carreira acadêmica de sucesso.
Se não o machismo que havia, foi a saúde precária de Lehmann que ficou em seu caminho. Apesar de tantas interrupções ao longo de sua graduação, ela conseguiu obter seu diploma em matemática pela Universidade de Copenhague (Dinamarca) e pela Universidade de Cambridge (Inglaterra).
(Fonte: American Geophysical Union/Reprodução)
Logo em seguida, ela se tornou assistente do geodésico Niels Erik Norlund (1885-1981), que a incumbiu a tarefa de criar observatórios sismológicos na Dinamarca e Groenlândia, apesar de ela não ter nenhum treinamento na área. Foi ali que começou seu interesse pela sismologia, tendo o trabalho árduo de ajudar a estabelecer as primeiras estações sísmicas.
Em 1928, Lehmann passou no exame de geodésia como geodésica de Estado e chefe do departamento de sismologia do Instituto Geodésico da Dinamarca, dirigido por Norlund. Responsável pela investigação de uma série de questões sismológicas, a mulher começou a estudar a velocidade com que as ondas sísmicas viajam através de diferentes camadas da Terra.
(Fonte: Vox/Reprodução)
Em 1929, um terremoto de 7,3 na Escala de Richter que atingiu a Nova Zelândia, enviando ondas sísmicas em todo o interior da Terra, se transformou no grande momento da vida acadêmica de Lehmann.
Examinando os dados sísmicos após o fenômeno, a mulher descobriu que algumas ondas pareciam “dobrar” na direção conforme passavam pelo centro da Terra, como se estivessem sendo desviadas por algo.
Ela levou 7 anos para terminar seus estudos sobre o assunto e publicar sua teoria, que argumentava que essa mudança de ângulo pudesse ser, provavelmente, devido a um núcleo interno no centro da Terra ainda não descoberto.
Lehmann estava certa, mas isso só foi comprovado na década de 1970, quando a tecnologia avançada do sismógrafo permitiu que provasse definitivamente que o núcleo interno sólido da Terra realmente existe.