Nikola Tesla defendia a eugenia?

27/10/2021 às 06:302 min de leitura

Inventor, engenheiro eletrotécnico e engenheiro mecânico, mais conhecido por suas contribuições ao projeto do moderno sistema de fornecimento de eletricidade em corrente alternada, o sérvio Nikola Tesla (1856-1943) é considerado o “gênio mais injustiçado da história”.

Devido a sua carreira, marcada pela sua capacidade de coletar muitas das ideias soltas do século XIX e transformá-las em novas invenções que se destacaram, muitas pessoas sentem o ímpeto de querer canonizá-lo por seus feitos profissionais e lutas pessoais para conseguir alcançar o merecido reconhecimento que deveria ter tido.

Esses entusiastas de Tesla do século XXI insistem que ele era a “personificação de tudo o que há de bom no mundo”, sabendo lutar contra seus adversários, como Thomas Edison (1847-1931), e passando o exemplo do que é o bem contra o mal.

Mas talvez essas pessoas tenham perdido de vista que Tesla era apenas uma pessoa como qualquer outra por debaixo de sua longa carreira pontuada por adversidades, enaltecida pelas pessoas que o reconheceram 100 anos depois e preferiram olhar para a parte que se destacava, em vez da outra que revelava a série de erros que tinha. 

A fé no futuro

(Fonte: Wikipedia/Reprodução)(Fonte: Wikipedia/Reprodução)

Tesla acreditava que até o ano de 2100, a eugenia estaria universalmente estabelecida como um sistema de eliminação de pessoas “indesejáveis” da população. Na década de 1930, alguns países da Europa já anteviam a Ação T4 que Adolf Hitler desenvolveria como medida inicial de seu plano para o Holocausto, e já estavam esterilizando criminosos e doentes mentais de maneira compulsória. O inventor endossou a medida, mas a criticou porque não achava que estava indo rápido o suficiente.

Na edição de 9 de fevereiro de 1935 da revista Liberty, que falava das previsões de Tesla para o futuro da humanidade, o inventor defendeu abertamente a ideia de eugenia. “Em épocas passadas, a lei que governava a sobrevivência do mais apto eliminou as linhagens menos desejáveis”, escreveu ele.

Tesla se queixava que o “senso de piedade” do homem teria sido o responsável por começar a interferir no funcionamento implacável da natureza. O resultado teria sido a necessidade de a humanidade continuar se mantendo viva e criar outras pessoas “inaptas”. Para evitar a procriação de “inaptos”, Tesla sugeriu a esterilização e a orientação deliberada do instinto de acasalamento.

(Fonte: History/Reprodução)(Fonte: History/Reprodução)

“A tendência de opinião entre os eugenistas é que devemos tornar o casamento mais difícil. Certamente, ninguém que não seja um pai desejável deve ter permissão para produzir. Daqui a um século, não ocorrerá mais a uma pessoa normal se acasalar com uma pessoa eugenicamente incapaz”, pontuou ele.

Não é possível determinar se as ideias do inventor se mantiveram firmes após o genocídio desempenhado por Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, é irônico imaginar que Tesla, provavelmente, seria um dos cadáveres queimados e descartados pelos nazistas porque, apesar de uma mente brilhante, ele não era considerado “normal”.

Tesla tinha Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), que o obrigava a só fazer coisas em três, como só ocupar um quarto de hotel cujo número era divisível pelo número três. Em meio a sua aversão por pombos e mulheres usando brincos, ele foi considerado excêntrico. Quando novo, Tesla sofreu um colapso nervoso, e uma série de problemas mentais com os quais ele nunca soube lidar, culminou em um final de vida com um possível diagnóstico de demência.

Isso provavelmente o teria colocado na categoria de “indesejável” em um regime marcado pela eugenia que defendia. Ele não era como os outros homens, nem de longe.

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