Por que a Índia não se dedica à preservação da riqueza fóssil?

26/01/2022 às 12:162 min de leitura

Lar de criaturas desconhecidas e de alguns dos espécimes fósseis mais fantásticos já documentados, a Índia é um dos primeiros destinos de escavação para entusiastas e interessados em registros históricos, apresentando segredos em seu interior que sequer sonharam em ser descobertos. Curiosamente, essa riqueza abrigada no país é oriunda de um certo impossibilidade em incentivar estudos e preservação dos restos antigos, que acabaram se acumulando e se veem na iminência do esquecimento.

No decorrer dos últimos anos, paleontólogos de diversas regiões viajaram para a Índia a fim de iniciar projetos pessoais de escavação. Em pouco tempo, foram descobertos espécimes de uma cobra pré-histórica (Sanajeh indicus), lagartos primitivos e ovos de dinossauros, mas os especialistas encontraram dificuldades de manter a preservação dos artefatos, visto não haver locais onde a limpeza das evidências poderia ser realizada ou meios de transportes adequados para mover materiais delicados.

Estudiosos deduzem que a proteção ao patrimônio geológico no país é comprometida pela falta de financiamento e de investimento por parte de órgãos competentes. Como consequência, equipes preparadas para lidar com o manejo e com os estudos tornam-se cada vez mais escassas, impossibilitando o desenvolvimento de métodos sistemáticos de exploração e permitindo que os mistérios enterrados em solo asiático permaneçam submersos em montanhas e solos desgastados por deslizamentos de terra.

(Fonte: Alamy / Reprodução)(Fonte: Alamy/Reprodução)

"Acho que grande parte da herança de fósseis da Índia encontra-se inexplorada e foi esquecida", afirma Advait M. Jukar, paleontólogo de vertebrados da Universidade Yale e pesquisador do Departamento de Paleobiologia do Instituto Smithsonian em Washington. "A Índia abrigou as primeiras baleias, alguns dos maiores rinocerontes e elefantes que já existiram, vastos leitos de ovos de dinossauro e estranhos répteis com chifres anteriores à era dos dinossauros. Mas existem muitas lacunas que ainda precisam ser preenchidas."

Além disso, outro fator que vem se tornando recorrente no país é a dificuldade na cooperação entre cientistas locais, com muitos evitando o relacionamento e a troca de informação motivados por questões políticas ou ideologias pessoais. Segundo o paleontólogo Jeffrey A. Wilson, roubos de cargas e atos de vandalismo contra patrimônios são comuns no país, mas não impactam tão negativamente quanto as barreiras de integração do conhecimento.

História construída aos poucos

Desde a década de 1980, o especialista em fósseis Ashok Sahni vem contribuindo com a exploração de vestígios históricos na Índia, financiando pesquisas com seu próprio dinheiro e trabalhando ao lado de cientistas para reunir informações valiosas sobre a formação geológica no país. Hoje, seus achados estampam as prateleiras do Museu de História Natural da Universidade de Punjab e contribuíram com a descoberta de uma nova espécie de dinossauro carnívoro, o Rajasaurus narmadensis, que demorou quase 20 anos de escavações para ser identificado.

(Fonte: Alamy / Reprodução)(Fonte: Alamy/Reprodução)

As conclusões obtidas com esses projetos questionaram a condição da Índia ser classificada como "um continente isolado", além de dar novos indicativos sobre a evolução de mamíferos em baleias, originárias dos leitos oceânicos da Índia e do Paquistão, e ajudar a entender como o futuro se relaciona com o nível dos danos que a ação humana vem causando ao meio ambiente.

"Sabemos que as mudanças climáticas causam movimentação das espécies para seus ambientes preferidos. Podemos usar as informações sobre onde os animais e as plantas viviam no passado para prever melhor os locais para onde eles poderão migrar em cenários de mudanças climáticas futuras", conclui Jukar.

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