Artes/cultura
24/07/2022 às 07:00•2 min de leitura
Não há mistério maior do que a morte. Todos nós temos algum tipo de curiosidade sobre o que sentiremos na hora que nossa vida estiver se encerrando – e é essa, provavelmente, a principal razão do medo que temos deste momento.
Os cientistas também se questionam sobre o assunto e já fizeram algumas descobertas. Uma das maneiras de se investigar a questão é pelas chamadas experiências de quase morte (EQM). O relato médico mais antigo de uma dessas experiências data do século XVIII, e foi feita por um boticário francês que perdeu a consciência durante uma sangria. Quando acordou, disse ter visto “uma luz tão pura e extrema que pensou estar no céu”.
Mas este tipo de relato – de pessoas que dizem ter visto luz, olhado seu corpo de fora ou sentido paz – começou a ser relativamente comum, fazendo com a ciência quisesse dar um passo adiante.
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(Fonte: Getty Images)
Um dos nomes proeminentes neste tipo de investigação é o do médico britânico Sam Parnia, que coordena uma organização que estuda os casos em que houve ressuscitação cardiopulmonária de pacientes. Junto de seus colegas, realizou uma pesquisa mais objetiva: entrevistou 63 pessoas que foram ressuscitadas após uma parada cardíaca.
O estudo verificou que 7 destes 63 pacientes conseguiram recordar pensamentos que tiveram quando estavam inconscientes. Os relatos envolviam, em geral, memórias positivas. Mas os médicos notaram algo interessante: quem era capaz de recordar a experiência tinha os níveis mais altos de oxigênio no sangue, o que desmentiu a hipótese inicial que estas visões resultariam da falta de oxigênio no cérebro.
A primeira conclusão desta investigação é que a morte por parada cardíaca não foi sentida como algo doloroso – boa parte dos relatos falava sobre sentimentos tranquilizadores, que não justificaria o medo anterior a este momento.
(Fonte: Getty Images)
As pesquisas sobre as EQMs costumam coincidir neste relato sobre a ausência de dor. Sabe-se também qual é a ordem em que os sentidos costumam se cessar: primeiro, acaba a fome e a sede, seguido pela fala e visão.
A audição e o toque duram mais tempo, o que indica que muitas pessoas podem ouvir e sentir seus parentes nestes momentos, mesmo que pareçam estar inconscientes. À medida que a morte se torna mais próxima, o coração bate com menos força, a pressão sanguínea cai, a pele esfria e as unhas escurecem. Os órgãos internos começam a ter dificuldades para funcionar. Em seguida, a respiração fica mais superficial e rápida. Eventualmente, ela começa a pausar, até que cessa. Minutos depois, o coração para de bater e o cérebro fica sem oxigênio.
Por mais que esse conhecimento possa parecer mórbido ou lúgubre, ele é importante, uma vez que somos uma sociedade que costuma negar a existência da morte e evita falar sobre ela. Saber mais sobre isto pode ajudar a entender o que compartilhamos com parentes cuja vida está chegando ao fim e mesmo a adquirir alguma tranquilidade sobre a nossa própria morte.
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