Mapa estelar mais antigo já descoberto foi feito em pergaminho

Um mapa estelar que data do ano 129 a.C. foi revelado graças ao trabalho de uma equipe de pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Além de investigar o conteúdo do manuscrito que escondia um valioso registro para a história da astronomia, o estudo também se dedicou a buscar evidências de quem teria dado origem ao antigo documento.

A história por trás desse achado é bem interessante: o primeiro sinal que uma descoberta estava por vir ocorreu em 2012, Jamie Klair examinava um manuscrito cristão do Mosteiro Ortodoxo de Santa Catarina, localizado no Egito. O estudante notou que o material parecia ter sido reutilizado e que havia até mesmo uma passagem em grego atribuída a Eratóstenes de Cirene, um detalhe despercebido até então.

(Fonte: Museum of the Bible/Early Manuscripts Electronic Library/Keith T. Knox/Emanuel Zingg)

Um palimpsesto misterioso

Mas foi apenas anos depois, em 2017, que a condução de uma análise minuciosa permitiu aos pesquisadores chegar a algumas conclusões. Ao identificar coordenadas estelares, as evidências apontaram o mapa estelar teria sido escrito por ninguém mais e nem menos que Hiparco de Niceia, o pai da astronomia. 

Além de fontes antigas fazerem referência ao fato de que o astrônomo teria sido o primeiro a realizar esse tipo de trabalho, a forma como os dados das posições estelares foi indicada, rica em detalhes, também corrobora essa tese.

Como os astros ocupam espaços bem definidos num determinado espaço de tempo, foi possível estimar que o palimpsesto — nome dado a um pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir sua reutilização — de fato surgiu em 129 a.C., conferindo maior autoridade à descoberta e o tornando como o primeiro tipo de registro dedicado a documentar a posição das estrelas no céu.

Reconstruir o trabalho produzido de Hiparco, que buscava catalogar todas as estrelas visíveis, foi possível graças à tecnologia de imagem multiespectral. O recurso possibilita observar melhor as camadas de palavras escritas que ficaram dispostas sobre o pergaminho no passar do tempo.

(Fonte: Unsplash)

Novas expectativas

Publicada no Journal for the History of Astronomy, a descoberta abre a possibilidade de que existam outros tipos de documentos na mesma situação e aumenta a expectativa de que novos mistérios sejam desvendados futuramente. Os avanços nas técnicas de imagem também poderão determinar o rumo dos trabalhos dos estudiosos na análise dos manuscritos.

A recente revelação também confere a Hiparco a obra mais detalhada e precisa realizada na antiguidade. Acredita-se que o famoso estudioso tenha vivido entre 190 a.C. e 120 a.C., sendo um dos grandes nomes da Escola Alexandrina. 

Tendo realizado importantes contribuições para a astronomia, a cartografia e a geometria e se dedicado a projetar o primeiro modelo de astrolábio, agora, mais do que nunca, a crença no papel de destaque que ele desempenhou para a história ficou ainda mais fortalecida com a presença de um raro resquício do seu trabalho.