Os detritos espaciais estão destruindo os oceanos

19/11/2022 às 12:003 min de leitura

Desde 1957, quando os Estados Unidos e a União Soviética engataram na derradeira Corrida Espacial, o planeta passou a enfrentar outro problema associado ao avanço do homem na Terra: o lixo espacial.

Atualmente, estima-se que existam mais de 200 mil detritos orbitando o planeta, como foi capturado pelos sensores globais da Rede de Vigilância Espacial (SSN) do Departamento de Defesa, sendo que só na Lua existem 180 toneladas de lixo deixados pela exploração lunar

Parecendo ignorar como esses detritos podem afetar quem está aqui em baixo, a Agência Espacial Tripulada da China (CMSA) deixou um corpo de foguete de 23 toneladas para cair de volta à Terra sem controle. Isso reacendeu o nada morto debate sobre os impactos da indústria espacial no meio ambiente, principalmente a quantidade de detritos espaciais nos oceanos.

Efeito cascata

(Fonte: @TrescoIsland/Twitter/Reprodução)(Fonte: @TrescoIsland/Twitter/Reprodução)

A reentrada descontrolada de veículos espaciais na órbita da Terra é uma prática considerada extremamente perigosa porque impede que as autoridades descubram como e onde o lixo espacial em queda pode pousar. Um exemplo disso aconteceu em 1991, quando a estação espacial soviética Salyut reentrou na atmosfera sobre a Argentina, se desfazendo e chovendo em milhares de fragmentos.

Recentemente, a empresa SpaceX, do bilionário Elon Musk, foi apontada em um artigo da Nature sobre permitir que detritos, como tanques de combustível usados, despencassem na Terra sem supervisão. O pior disso é que pouco é falado sobre o que acontece depois que o lixo chega.

Como a superfície do planeta é composta por 71% de água, isso significa que é provável que os restos espaciais em queda acabem no mar. As naves espaciais abandonadas estão entre os objetos mais perigosos para o meio ambiente, visto que liberam produtos químicos tóxicos ao reentrar na atmosfera, sendo um deles o cloro. O elemento pode causar brechas danosas na camada de ozônio do planeta, levando ao aumento perigoso de grandes quantidades de luz ultravioleta.

(Fonte: Rocket Lab/Reprodução)(Fonte: Rocket Lab/Reprodução)

Isso implica também em estragos nos ecossistemas marinhos em níveis fundamentais. O aumento da incidência ultravioleta pode prejudicar o fitoplâncton, responsável pela base da cadeia alimentar marinha, e sua falta de comida está associada a um efeito em cascata, levando à morte de populações animais generalizadas, como foi destacado no estudo publicado pela revista Photochemical & Photobiological Science.

Peixes, crustáceos, anfíbios e corais – estes que já estão sob séria ameaça devido às mudanças climáticas – são os mais afetados.

Demorou muito tempo para que os veículos espaciais fossem enxergados como uma ameaça para o planeta, pois acreditava que eles queimariam inteiramente em sua reentrada. A falta de cuidado em sua queda implica não só em um problema a longo prazo para os humanos, com centenas de naves caindo todos os anos, como para os oceanos que se tornam um cemitério eterno.

O cemitério eterno

(Fonte: Jarrod Fankhauser/ABC/Reprodução)(Fonte: Jarrod Fankhauser/ABC/Reprodução)

Point Nemo, localizado em uma região muito profunda no Pacífico, é conhecido oficialmente como Cemitério de Naves Espaciais. Foi na década de 1970 que os países com programas espaciais passaram a usar o local como descanso de seus veículos desativados por se tratar de um polo de inacessibilidade.

Existem mais de 260 pedaços de detritos espaciais lá embaixo, afundando eternamente a cada segundo. Apesar do problema que os detritos em órbita podem causar, alguns especialistas observam que a alternativa é melhor que mantê-los em Point Nemo, contribuindo para a poluição com elementos tóxicos e microplásticos.

(Fonte: Alexyz3d/iStock)(Fonte: Alexyz3d/iStock)

Ainda assim, não há estimativa a curto ou longo prazo para as autoridades espaciais pararem de usar o Pacífico como depósito de lixo espacial, sobretudo com os planos de fazer dele o descanso final da desativada Estação Espacial Internacional (ISS) – o maior objeto feito pelo homem orbitando a Terra até o momento.

Ela vai adicionar mais uma vírgula na poluição plástica, que não é biodegradável, para aumentar o impacto generalizado no meio ambiente do planeta. Não se sabe muito sobre o ambiente oceânico profundo de Point Nemo, portanto, é difícil dizer quais serão os impactos totais à medida que os detritos espaciais continuam a se acumular.

A alternativa menos pior

(Fonte: Yannaing Pyi Sone Aung/Facebook/Reprodução)(Fonte: Yannaing Pyi Sone Aung/Facebook/Reprodução)

É provável que as viagens espaciais usem cada vez mais energia nuclear no futuro, aumentando os perigos envolvendo a radioatividade na queda descontrolada das naves espaciais. A Agência Internacional de Energia Atômica considera uma pauta antiga, mas muito atual, as preocupações que implicam no envio de material nuclear para o espaço, sobretudo na maneira como ele deve ser descartado. 

Os cientistas observam que não é inédito também que uma espaçonave movida a energia nuclear passe por uma reentrada descontrolada na Terra, porém o problema é como as ondas oceânicas podem dispersar mais rapidamente o material radioativo em uma ampla área.

Além do impacto na camada de ozônio e nos ecossistemas, o lixo espacial pode afetar fisicamente as pessoas ao cair em áreas povoadas, apesar disso ser difícil até em quedas descontroladas. A primeira vez que esse tipo de incidente aconteceu foi em 1969, no apogeu da Corrida Espacial, quando um pedaço de destroço soviético atingiu um cargueiro japonês e feriu cinco pessoas.

(Fonte: Paul D. Maley/Reprodução)(Fonte: Paul D. Maley/Reprodução)

Aqueles que habitam as ilhas do Pacífico sul estão mais vulneráveis a esse tipo de situação, tanto que já expressaram sua preocupação antes, quando a Rússia desorbitou a estação espacial Mir, fazendo da região um alvo grande para seus destroços rápidos o suficiente para destruir concreto armado.

Os ângulos do prisma de ameaça, no entanto, não alcançam nenhuma solução que seja efetiva ou sustentável, apenas menos pior no momento.

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