Estilo de vida
18/11/2022 às 06:41•3 min de leitura
A fala da presidenta Dilma Rousseff, de 2015, sobre o desenvolvimento de uma tecnologia que "estocaria vento" ainda hoje é lembrada. No período, a ideia foi vista com certa incredulidade por muita gente, que acabou levando a fala adiante com bastante humor. Mas a verdade é que há uma série de estudos sendo conduzidos para promover desenvolvimento de energias limpas. E, claro, a possibilidade de estocar vento, ou melhor, armazenar energia, tem sido alvo dessas pesquisas.
O fato do vento ser um recurso tão abundante nunca passou despercebido no setor de energia. Isso é tão verdade que a energia eólica se consolidou como uma das matrizes que apresentou maior avanço no mundo, substituindo em parte o papel até então empregado para a produção de energia por meio do carvão ou da hidrelétrica. O Brasil, nesse sentido, tem sido pioneiro.
(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
E isso não seria possível sem a presença de correntes que atuam levando ventos bem fortes para a costa brasileira, algo percebido com maior intensidade na região nordeste e que a coloca como uma grande produtora de energia eólica. Mas como potencializar a produção de energia ou permitir a sua utilização mesmo nos locais que não possuem esse privilégio ao longo do ano? O que seria possível fazer, então?
Pesquisadores se dedicaram a desenvolver formas de trabalhar no melhor aproveitamento desse recurso. Para isso, a gravitação será protagonista para a geração de energia. O modelo que estamos falando aqui consiste na construção de grandes blocos de concreto que ficariam empilhados numa torre de 120 metros de altura. Quer ver como isso funcionaria? Então confira o vídeo abaixo:
Em suma: para aproveitar o potencial energético, os blocos seriam movimentados por meio de cabos acoplados nela, que funcionariam como uma espécie de guindaste, movendo os blocos para cima e para baixo. A força gerada a partir disso tornaria possível a produção de energia pela força da gravidade, ajudando a gerar um vento de maior intensidade e armazenando até 400 megawatts de energia.
Inovador, esse projeto está sendo desenvolvido pela empresa Energy Vault, na Suíça e também está sendo implementado em parceria com o governo do Rio Grande do Norte no estado. Como a produção de energia a partir do vento depende da presença constante de correntes de ar, e que essa instabilidade é um dos principais empecilhos para a geração de energia, essa seria uma forma de obter um maior aproveitamento.
Apesar de já existirem sistemas que operam em modelos semelhantes utilizando a água, ao utilizar o ar, um diferencial é que não seria necessário depender de características geográficas específicas para tornar o projeto operacional. As críticas que as torres seriam mais suscetíveis a eventos climáticos de maior magnitude também podem ser um dos favores que motiva a companhia a buscar o constante aperfeiçoamento desse modelo e mesmo a investir em outros de maior potencial.
E as descobertas não pararam por aí! No Brasil, cientistas da Universidade de Birmingham, na Inglaterra, em convênio com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), estão trabalhando num outro modelo que usa o ar líquido a partir do seu resfriamento em -196 °C. Para utilizá-lo, bastaria aquecê-lo para condições ideais mais adiante. Esse processo de aquecimento do material estocado e compresso resultaria na sua expansão, gerando uma turbina por meio do movimento resultante dessa transformação.
(Fonte: Shutterstock/Reprodução)
Para você ter uma ideia de como funciona isso, 10 litros de ar ficam tão comprimidos com a mudança do estado da matéria que correspondem a apenas 1 litro na sua forma líquida. Ou seja, estocar o vento dessa maneira realmente representaria a possibilidade de aproveitar seu potencial por meio da mudança do seu estado físico, viabilizando a produção de energia elétrica mesmo em períodos de menor incidência dos ventos. A expectativa é que o projeto entre em escala comercial a partir de 2028.
Ambas soluções conferem um protagonismo ainda maior à América do Sul no desenvolvimento de novas matrizes, possibilitando aumentar a oferta nos períodos de maior demanda e, reduzindo assim, o risco de colapso do sistema e a dependência de outras fontes de energia, além de reduzir substancialmente os danos ao meio ambiente.