Ciência
23/12/2022 às 09:00•2 min de leitura
O rover Perseverance da NASA conseguiu captar pela primeira vez o som de uma tempestade em Marte. O registro — que você pode conferir no vídeo abaixo — foi realizado em setembro de 2021, mas somente agora um estudo sobre ele foi publicado.
A gravação acabou sendo uma obra do acaso, porque o microfone do Perseverance não funciona de modo contínuo. Ele grava cerca de três minutos por dia a cada poucos dias, o que significa que foi uma sorte conseguir a gravação da tempestade. Mesmo assim, não se trata de um registro inesperado, uma vez que cerca de 100 redemoinhos de poeira foram confirmados na Cratera de Jezero desde fevereiro de 2021, quando o Perseverance pousou no local.
Roger Wiens é coautor do estudo e o responsável pela SuperCam do Perseverance — um conjunto de ferramentas que compõem a “cabeça” do rover. Ele afirma que, em alguns casos, o som pode oferecer mais informações sobre as condições do planeta vermelho do que outros tipos de registro.
O rover conseguiu registrar o ruído de tornados de poeira e areia, que também são um sinal de distúrbios na atmosfera. Como esse material pode causar danos nos equipamentos, a equipe espera entender como o levantamento de poeira funciona em marte. Assim, seria possível prever tempestades e evitar possíveis prejuízos em missões tripuladas.
“É possível observar a queda de pressão, ouvir o vento, depois ter um pouco de silêncio que é o olho da pequena tempestade, e depois ouvir o vento novamente e observar o aumento da pressão”, explicou Wiens. “O vento é rápido – cerca de 40 km/h. Embora na Terra existam tempestades mais fortes, como a pressão do ar em Marte muito menor, lá os ventos empurram com cerca de 1% da pressão que a mesma velocidade do vento teria na Terra. Mesmo não sendo tão forte, ele possui energia o suficiente para lançar partículas de areia no ar para fazer um redemoinho de poeira”.
Mas nem tudo referente às tempestades é ruim. Em 2018, o módulo InSight da NASA pousou em outra região de Marte, onde as tempestades não costumam acontecer. Isso fez com que seus painéis solares acumulassem poeira e perdesse a conexão com a Terra desde 2021. Agora, o módulo está praticamente inoperante e deve deixar de funcionar completamente em breve.
Com isso, os futuros astronautas que explorarem Marte não terão que necessariamente se preocupar com ventos fortes derrubando habitats ou antenas de comunicação. A equipe acredita que as brisas que sopram poeira e areia dos painéis solares do rover podem ajudá-los a durar mais tempo.
“Essas equipes de rovers veriam um lento declínio na potência dos aparelhos ao longo de alguns dias ou semanas, seguido por um aumento repentino. Isso aconteceria quando o vento limpar os painéis solares”, disse Wiens. “Assim como na Terra, há clima diferente em diferentes áreas de Marte. Usar todos os nossos instrumentos e ferramentas, especialmente o microfone, nos ajuda a ter uma noção mais real de como seria estar em Marte”.