Vulcano: quando astrônomos acreditavam em um 'planeta fantasma'

30/12/2022 às 08:003 min de leitura

Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são os planetas que compõe o Sistema Solar. Todos sabem disso – ou pelo menos deveriam –, mas nem sempre foi assim. Antes de Galileu, Kepler e Copérnico, por exemplo, os seres humanos não tinham nem certeza do que eram aquelas formas grandes e brilhosas no céu. Depois, passaram a acreditar que os planetas que eles conheciam giravam ao redor da Terra. 

Embora muito mal identificados, os primeiros planetas vistos por humanos foram Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno; observados desde a pré-história e considerados fundamentais para inúmeras civilizações humanas. Alguns dizem que temos 7 dias por semana por causa desses cinco planetas, o Sol e a Lua. Ao longo da Antiguidade, eles foram essencialmente confundidos com estrelas, sendo os babilônicos os primeiros a identificá-los como objetos notáveis no céu a olho nu.

(Fonte: NASA/JPL/Reprodução)(Fonte: NASA/JPL/Reprodução)

Demorou até o século XVIII para que os três últimos planetas pudessem ser descobertos, o que significa que ninguém estava ciente de que eles existiam. Plutão foi o último deles, descoberto na década de 1930, mas rebaixado à categoria de planeta anão em 2006, saindo da configuração original e causando uma grande confusão na cabeça das pessoas.

Poucos sabem, porém, que essa não foi a primeira vez que as pessoas precisaram lidar com a perda de um planeta. No século XIX, nós ganhamos e perdemos um planeta que nunca tivemos. O nome dele era Vulcano

A missão de Verrier

Urbain Le Verrier. (Fonte: Wikimedia Commmons)Urbain Le Verrier. (Fonte: Wikimedia Commmons)

Foi em meados de 1840 que o então jovem matemático Urbain Le Verrier recebeu do chefe do Observatório de Paris a missão de desenhar um modelo da órbita do planeta Mercúrio, tendo como base a teoria física newtoniana, que mostra como a força da gravidade influencia todas as coisas do mundo. 

Ao longo de cinco anos, Verrier se empenhou em construir um modelo meticuloso, tendo a responsabilidade de entregar o projeto quando Mercúrio passasse pelo Sol – o que aconteceu três anos depois. Para o desânimo do matemático, seu modelo se comportou da maneira que não era esperada quando o momento de teste chegou, basicamente jogando 8 anos de trabalho no lixo. 

(Fonte: Library of Congress/Reprodução)(Fonte: Library of Congress/Reprodução)

Ainda assim, Verrier não desistiu. Ele começou a confecção de um novo modelo no início de 1850, considerado tão rigoroso em detalhes que se tornou a "prova" de que algo estava interferindo na órbita de Mercúrio. Quando o planeta passou pelo Sol naquela década, ele variou em 43 segundos do arco do modelo de Verrier, sendo assim, a comunidade astronômica concordou que havia outro planeta entre Mercúrio e o Sol.

O motivo pelo qual ninguém considerou que Verrier poderia estar apenas equivocado de novo, dessa vez em uma margem muito pequena, estava pautado com base em discrepâncias semelhantes encontradas na órbita de Urano quando o matemático descobriu Netuno, em meados de 1846. 

O engano de 40 anos 

(Fonte: Pictorial Press Ltd/Alamy Stock Photo)(Fonte: Pictorial Press Ltd/Alamy Stock Photo)

A essa altura, os astrônomos teriam aceitado qualquer tipo de sugestão feita por Verrier, portanto, no momento em que ele apresentou suas suspeitas de um planeta fantasma, ele recebeu supostas evidências de um astrônomo amador detalhando um pequeno ponto preto transitando pelo Sol. 

Após um longo debate, Verrier concluiu que este deveria ser um novo planeta. Em 1860, o matemático anunciou isso para a imprensa e nomeou o planeta de Vulcano, em homenagem ao deus romano do fogo, filho de Juno e Júpiter. 

Mas não demorou para que sua descoberta fosse contestada. O primeiro a fazer isso foi um astrônomo francês, que não acreditava que Vulcano havia passado pelo Sol, então Verrier publicou o caminho teórico e a órbita do novo planeta, certo de que solucionaria todas as dúvidas. Porém, ele recebeu uma enxurrada de relatórios, em sua maioria de astrônomos amadores, alegando existir erros em seus cálculos. 

(Fonte: Detelina Petkova/Shutterstock)(Fonte: Detelina Petkova/Shutterstock)

Nos 40 anos seguintes, esses especialistas procuraram Vulcano em sua pequena órbita ao redor do Sol, mas não encontraram nada. Em 1908, um eclipse solar total falhou em comprovar qualquer planeta intra-Mercurial através de capturas fotográficas, o que significou um durou golpe às alegações de Verrier sobre a existência de Vulcano. 

Contudo, a comprovação de que este planeta nunca existiu surgiu apenas em 1915, com a teoria da relatividade de Einstein, que mudou a maneira como pensamos sobre a gravidade e resolveu as pequenas discrepâncias na órbita de Mercúrio.

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