Estilo de vida
11/01/2023 às 10:00•2 min de leitura
Ferramentas de pedras que teriam pelo menos 50 mil anos de idade, encontradas em sítios arqueológicos no Piauí, provavelmente foram feitas por macacos-prego. É o que sugere um estudo a respeito deste material, publicado na revista The Holocene em novembro do ano passado.
Conduzida por especialistas do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Técnica da Argentina (CONICET), a investigação comparou as ferramentas pré-históricas com objetos de quartzo e quartzito produzidos pelos macacos que atualmente vivem na região. Semelhanças consideráveis entre os materiais foram notadas.
Segundo o artigo, as peças, cuja construção havia sido anteriormente atribuída a humanos que viveram no Paleolítico, são bastante parecidas com as criadas pelos macacos-prego do Parque Nacional da Capivara, também no Piauí. Elas são utilizadas em várias atividades realizadas pelos animais.
(Fonte: Tiago Falótico/IP-USP)
As ferramentas analisadas nesta nova investigação foram descobertas durante escavações ocorridas em cerca de 800 sítios pré-históricos do período Pleistoceno. Elas estavam em locais como os sítios de Pedra Furada, Vale da Pedra Furada, Sítio do Meio e Toca da Tira Peia, no território piauiense.
As ferramentas de pedra simples que provavelmente pertenciam aos macacos-prego que habitavam a região há milhares de anos servem, principalmente, para facilitar a alimentação. Conforme o estudo, os animais escolhem pedaços específicos de rochas e os usam como uma espécie de martelo para quebrar nozes e castanhas, parte da sua dieta diária.
Os primatas também têm o costume de bater uma rocha contra a outra e lamber a poeira, fruto do impacto, para adicionar minerais ao cardápio, e usam as pedras em escavações. Outra utilidade do material é na hora de acasalar, pois as fêmeas atiram as pedras em potenciais parceiros, como uma maneira de demonstrar interesse sexual.
(Fonte: Tiago Falótico/IP-USP)
Todas essas atividades podem levar à quebra das rochas em pedaços menores, que acabaram confundidos com as ferramentas de pedra construídas pelos primeiros humanos a habitar o continente. Somente uma análise mais minuciosa permitiu distinguir as versões.
A possibilidade de que o material era usado por macacos e não pelos humanos foi levantada em outros estudos, como o realizado por primatólogos da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com arqueólogos ingleses. Na pesquisa, divulgada em 2019, os especialistas afirmaram que o tamanho das peças era escolhido pelos animais conforme a finalidade do trabalho.
As descobertas dos pesquisadores argentinos reforçam a ideia de que a presença do homem nas Américas pode não ser tão antiga quanto se imaginava. Com a indicação de que o material encontrado nos sítios arqueológicos do Pleistoceno do Brasil eram de macacos, a teoria anterior perdeu ainda mais força.
De acordo com o arqueólogo Agustín M. Agnolín, coautor do estudo, esta parte do continente foi ocupada em uma época bem mais recente do que o especulado, por volta de 13 mil a 14 mil anos.