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16/01/2023 às 02:00•2 min de leitura
Há 2.200, o astrônomo grego Hiparco desenvolveu uma ferramenta que logo surgiria como uma das maiores contribuições para os estudos espaciais. Isso porque seu mapa do céu noturno, criado com a intenção de reimaginar um sistema de coordenadas semelhante à latitude e à longitude, soube medir com precisão as posições de estrelas e ajudou a quebrar teses que colocavam o planeta Terra como o centro do universo.
Estudiosos acreditam que os estudos de Hiparco o levaram ao ápice da astronomia antiga. Seu catálogo de estrelas é a tentativa mais antiga de reestruturar a ordem espacial e marcou época como a primeira vez em que duas coordenadas foram utilizadas como referência de objetos. Apesar disso, esse documento acabou se perdendo no tempo e foi substituído pelas teses de Ptolomeu, que criou seu próprio registro por volta de 150 d.C.
Agora, um projeto apresentado por Victor Gysembergh, historiador da ciência do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, revela evidências sobre a precisão do mapa por meio do poema Fenômenos, originalmente escrito pelo grego Arato no século III a.C. O documento foi recuperado graças ao uso de imagens multiespectrais, que se aproveitam de diferentes comprimentos de onda de luz para destacar o texto removido.
Segundo a pesquisa, as coordenadas das quatro estrelas mais distantes ao norte, sul, leste e oeste da constelação Corona Borealis estão incluídas — tudo com uma compatibilidade surpreendentemente semelhante se comparada a de graus modernos. E embora os historiadores não saibam como Hiparco mediu o local das estrelas, acredita-se que o astrônomo tenha utilizado uma esfera armilar, recurso com anéis rotativos que representam as diferentes partes do globo celeste.
(Fonte: National Geographic / Reprodução)
Aparentemente, Hiparco foi influenciado pelo trabalho de astrônomos babilônicos que mediam distâncias de constelações elípticas. Eles podiam medir as estações e prever eventos espaciais por meio de conceitos particulares de observação regular, que ao se fundirem com a matemática e a geometria grega impulsionaram o surgimento de conquistas sem precedentes no campo da ciência.
As coordenadas recém-descobertas catalogam uma pequena fração de quase 800 estrelas identificadas por Hiparco. E apesar de apenas uma pequena parte desses registros terem sido cedidos aos estudos do astrônomo, seu trabalho parece ter sido mais preciso do que o de Ptolomeu. Essa conclusão foi possível graças a estudos comparativos e também registra pequenas discrepâncias ocasionadas, possivelmente, por mudanças de transcrição com o passar do tempo.
O documento, que contém vestígios de escrita removida, faz parte do Codex Climaci Rescriptus, coleção de pergaminhos datada de algum momento entre os séculos X e XI. Esse material, escrito em uma língua antiga da Ásia Ocidental, foi encontrado pela primeira vez em 2012, quando um aluno do estudioso bíblico Peter Williams, da Universidade de Cambridge, notou a escrita grega visível abaixo do texto siríaco.
Segundo a pesquisa, Hiparco também foi o primeiro cientista a descrever o movimento de precessão. Esse fenômeno consiste na oscilação da Terra em torno de seu eixo à medida que ocorre sua rotação natural. Com isso, foi possível detectar que as coordenadas correspondem a posições de estrelas situadas na Corona Borealis, região do cosmos visível da ilha de Rodes por volta de 130 a.C.
“Essas tecnologias de imagem multiespectral foram aplicadas apenas a uma fração muito pequena dos palimpsestos existentes. Existem literalmente milhares e milhares. Muitos deles têm conteúdo completamente não identificado”, conclui Gysembergh. “Podemos razoavelmente esperar ter muitas outras descobertas nos próximos anos.”