A China está matando o mundo com seus nevoeiros de poluição

15/01/2023 às 12:003 min de leitura

Desde a Londres do século XIX que nevoeiros matam como na China, tendo sempre o mesmo fator como consequência: a urbanização. No passado, um "smog" era apenas a combinação de fumaça e neblina – dois agentes que prevaleciam muito na Londres sulfurosa –, mas hoje significa uma combinação de ozônio ao nível do solo, produzido pela reação de poluentes como óxido de nitrogênio com outros compostos orgânicos, e partículas finas transportadas pelo ar.

Até pouco "smog" pode ser mortal para uma pessoa, especialmente quando esta é portadora de doenças crônicas, como asma. Estima-se que 1,24 milhões de pessoas morreram em 2017 devido à exposição à poluição do ar causada por esses nevoeiros na China, conforme um estudo publicado na revista The Lancet. Mais de 30 milhões de pessoas morreram desde 2000 devido a esse problema.

Sufocando antes de nascer

(Fonte: Feng Li/Getty Images)(Fonte: Feng Li/Getty Images)

Apesar de o presidente chinês Xi Jinping ter se comprometido a fazer sua nação alcançar a neutralidade de carbono até 2060, ele forneceu poucos detalhes sobre como esse objetivo será alcançado. A cada ano, a China aumenta a construção de usinas movidas a carvão, considerado o maior contribuinte para CO2 no ar desde o início de seu uso no século XVIII.

Em 2020, um estudo publicado na revista Nature por um grupo de pesquisadores chineses, chefiados por Xue Tao, sobre o efeito da poluição na mortalidade perinatal –, indicou que as partículas finas encontradas no ar do país são responsáveis pela morte anual de 64 mil bebês enquanto ainda no útero de suas mães.

Dos 137 países analisados, os cientistas descobriram que a exposição a essas partículas geradas na queima de combustíveis fósseis levaram a 40% dos natimortos na América Latina, Ásia e África em 2015. Os esforços de Pequim para controlar os efeitos da poluição nos últimos 10 anos, pelo visto, não foram o suficiente, visto que a China ficou em 4º lugar com base nas mortes fetais relacionadas ao material particulado de 2,5 mícrons de diâmetro (PM2,5), considerado o mais perigoso para a saúde humana e responsável por 4,2 milhões de mortes anuais por penetrar profundamente nos pulmões e entrar na corrente sanguínea.

“A melhoria da qualidade do ar em alguns dos 137 países pode estar por trás da redução da carga global de natimortos. Portanto, cumprir as metas de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde pode evitar isso”, escreveram os pesquisadores.

Um relatório da UNICEF descreveu o fenômeno como "uma tragédia negligenciada".

Ameaça mundial

(Fonte: STR/AFP/Getty Images)(Fonte: STR/AFP/Getty Images)

Zhu Tong, um dos coautores do estudo, disse que uma grande população e um desenvolvimento social desigual significam que ainda há inúmeras mulheres grávidas expostas à poluição do ar. A constatação esbarra com o tormento que é estabelecer uma linha entre compensações para proteção ambiental e o crescimento econômico, que depende inteiramente da produção industrial, urbanização e motorização – tudo vinculado ao aumento da poluição.

Historicamente, a eletricidade se tornou a fonte de maior poluição na China pela população em crescimento ter se apoiado no carvão como fonte de energia barata. Para se ter uma ideia, na década de 1990, 76,2% de toda a energia consumida no país era gerada pelo carvão; até 2019, o consumo ainda representava 57,7% dessa conta.

Apesar de a China ter se tornado a principal fonte global de investimentos em energia limpa, estabelecido o maior mercado de comércio de carbono do mundo, e regulado cerca de 3 bilhões de toneladas (30%) das emissões no país, ela ainda tem vários problemas que minimizam seus avanços, a começar pela quantidade de carros. 

(Fonte: Tao Zhang/Getty Images)(Fonte: Tao Zhang/Getty Images)

Em 2020, a China registrou um total de 360 milhões de veículos circulando, responsáveis por cerca de 45% da poluição do ar em Pequim e quase 30% em Xangai, segundo o Ministério de Ecologia e Meio Ambiente da China.

A saúde dos cidadãos não é a única afetada pela poluição mortal chinesa. O relatório de 2019 do Greenpeace e do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo observou que o problema custou até 6,6 do PIB do país, sendo que um estudo da Universidade Chinesa de Hong Kong estimou que US$ 38 bilhões de receita são perdidos anualmente devido a mortes prematuras e falha na produção de alimentos.

A China poderia desempenhar um papel crucial e central nos esforços para o combate das emissões, porém, cerca de 95% dos investimentos transfronteiriços em energia por empresas estatais chinesas foram em combustíveis fósseis, entre 2014 e 2017, conforme descobriu o estudo do World Resources Institute. Esse tipo de investimento pode prender os países receptores em fontes de energia tradicionais e poluentes por décadas.

Por meio do Acordo de Paris de 2015, a China se comprometeu com esforços para reduzir a mudança climática global, a começar pelo pico de suas emissões de carbono até 2030 e aumentar a participação de combustíveis não fósseis usados para 20% do consumo total no mesmo período. 

Ainda não está claro se a nação cumprirá com seus compromissos a nível nacional, tampouco global.

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