Qual é a relação de Dom Quixote com a invenção do autogiro?

20/01/2023 às 04:312 min de leitura

As invenções mais importantes da humanidade podem estar rodeadas de mistérios ou mesmo de acasos que tornam todo o processo ainda mais intrigante. E com o autogiro, que podemos considerar um precursor do helicóptero, parece não ter sido diferente!

A pessoa por trás da concepção dessa obra foi Juan de La Cierva, nascido em Múrcia em 1895. O espanhol, apesar de formado em engenharia civil, se interessava desde jovem pelo universo aeronáutico, chegando a atuar no desenvolvimento de aviões comerciais antes de se dedicar ao desenvolvimento do autogiro, em 1919.

Diferente do helicóptero, o chamado autogiro apresenta uma hélice voltada para cima, além de um rotor não motorizado voltado para frente, responsável por fornecer a sustentação no ar. Cierva desejava contribuir com o desenvolvimento de um modelo mais seguro, e após quatro anos, em 1923, realizou o primeiro voo bem-sucedido do autogiro.

Há cem anos, foi realizado o primeiro voo do autogiro. (Fonte: Wikimedia/Reprodução)Há cem anos, foi realizado o primeiro voo do autogiro. (Fonte: Wikimedia/Reprodução)

Quando a inspiração surge

No livro Dom Quixote de La Mancha, há o famoso duelo do herói contra os moinhos de vento, encarados como gigantes, resultando numa derrota vergonhosa. Tida como uma metáfora da loucura, talvez ela não tenha sido considerada uma batalha inútil.

Isso porque reza a lenda que a inspiração para o autogiro teria surgido quando de La Cierva assistia à peça inspirada no clássico, conforme relatou Roger Connor, curador da Smithsonian's National Air and Space Museum, em entrevista à Smithsonian.

Especula-se que o duelo de Dom Quixote contra os moinhos de vento teria servido de inspiração ao engenheiro. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)Especula-se que o duelo de Dom Quixote contra os moinhos de vento teria servido de inspiração ao engenheiro. (Fonte: Shutterstock/Reprodução)

Um mecanismo diferente

O mecanismo de autorrotação do moinho de vento teria sido, então, o elemento que atraiu a atenção do espanhol, fazendo com que refletisse sobre como se daria a sua aplicação numa aeronave, o que se dedicou a trabalhar ao longo de sua vida. 

Também se especula que, na verdade, o espanhol teria tido o insight sobre os rotores flexíveis enquanto acompanhava uma ópera de Giuseppe Verdi, Aida. O ponto é que esse mecanismo exigia que o autogiro fosse "ativado". E nesse caso, a solução adotada era enrolar uma corda ao redor do rotor, forçando o giro até que a aeronave ganhasse impulso para levantar voo.

Ou seja, o modelo não era capaz de subir verticalmente, como o helicóptero, além de exigir uma maior área para a decolagem e conquistar estabilidade. Isso o tornava um tipo de aeronave que dependia da presença de ventos contrários. E, naturalmente, alguns fracassos fizeram parte de todo esse processo de concepção.

(Fonte: Wikimedia/Reprodução)(Fonte: Wikimedia/Reprodução)

Legado para a história

Em 1928, Cierva conseguiu outro feito: o de atravessar o canal da mancha em 18 minutos. Apesar de obter relativo prestígio, após a Segunda Guerra Mundial o helicóptero acabou tomando o espaço do modelo que o espanhol se dedicou a aperfeiçoar.

O famoso engenheiro, por sua vez, faleceu em 1936, na Inglaterra, em um acidente de avião (que não pilotava). Pioneiro em seu trabalho, Juan de La Cierva ainda permanece sendo lembrado por sua grande contribuição no desenvolvimento de um modelo de aeronave com rotor.

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