Tabuletas de argila ajudam a traduzir língua cananeia 'perdida'

03/02/2023 às 12:002 min de leitura

Não é todo dia que os estudiosos de arqueologia, história e linguagens da antiga Mesopotâmia recebem uma boa notícia. Na maior parte do tempo, esses pesquisadores se dedicam a estudar línguas como o aramaico, ugarítico, elamita e acadiano, buscando incansavelmente tentar decifrar o que está escrito em tabuletas cuneiformes milenares.

Mas, recentemente, uma novidade no estudo de línguas antigas e “perdidas” deu um novo sopro de ânimo nesses profissionais. A boa notícia envolvendo o mundo antigo são duas tabuletas datadas de 3.800 anos atrás. Mesma época de Hamurábi, o rei da Babilônia conhecido pelo Código de Hamurábi que, por sua vez, é considerado pelos especialistas como o conjunto de leis mais abrangente do antigo oriente.

As tabuletas com a língua cananeia perdida

Antigas tabuletas de argila detalhando a enigmática linguagem amorreia. (Fonte: David I. Owen/Universidade Cornell/ Reprodução)Antigas tabuletas de argila detalhando a enigmática linguagem amorreia. (Fonte: David I. Owen/Universidade Cornell/ Reprodução)

Cerca de 30 anos atrás, durante a guerra envolvendo o Iraque e o Irã, duas tabuletas foram descobertas no Iraque. De alguma forma, foram parar nos EUA e, desde então, quase nada se sabia sobre elas.

Contudo, Andrew R. George e Manfred Krebernik, dois pesquisadores de línguas antigas, começaram a estudar o material incansavelmente. Demorou um pouco, mas os eles chegaram a uma conclusão surpreendente: as tabuletas traziam frases em amorreu, uma língua pertencente a mesma família da língua cananeia. Considerada “perdida” durante séculos, muitos pesquisadores chegaram a questionar se o amorreu existiu algum dia. De qualquer forma, a língua, até então perdida, apresenta incríveis semelhanças com o hebraico antigo.

O povo amorreu era originalmente da região de Canaã, uma área que compreendia a Jordânia, Israel e a Síria dos dias atuais. A língua falada por esse povo acabou sendo sufocada e quase que apagada por outras mais populares e difundidas na Antiga Mesopotâmia, a exemplo do próprio hebraico, aramaico e acadiano.

Os pesquisadores acreditam que as tabuletas, com quase 4 mil anos, contenham mais que frases soltas, mas, também, sentenças completas na língua amorreia. Krebernik, em uma entrevista concedida para um site especializado, disse que o conhecimento que os especialistas tinham do amorreu era tão ínfimo e quase inexistente que, como apontamos, muitos duvidaram que tal língua existiu.

Um pente antigo contendo a primeira frase escrita conhecida em cananeu, a família linguística na qual o amorreu está incluído. (Fonte: Dafna Gazit/ Israel Antiquities Authority/AP/ Reprodução)Um pente antigo contendo a primeira frase escrita conhecida em cananeu, a família linguística na qual o amorreu está incluído. (Fonte: Dafna Gazit/ Israel Antiquities Authority/AP/ Reprodução)

As tabuletas encontradas no Iraque e agora traduzidas colocam um ponto final nesse questão, deixando claro que o amorreu era uma língua bastante coerente e articulada.

Elas apresentam palavras e frases em tradução comparativa. Um dos idiomas foi de fácil identificação para os pesquisadores: tratava-se do acadiano. Como muitos textos da Antiga Mesopotâmia estão nessa língua, os estudiosos já tinham uma boa afinidade com o idioma para tentar decifrar o que estava na outra parte da tabuleta.

Ou seja, texto escrito nelas lembra muito um manual de idiomas. De um lado, estão palavras e frases na língua amorita e, do outro, a respectiva tradução em acadiano.

Fonte

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