Ciência
18/03/2023 às 09:00•2 min de leitura
Evidências de atividade vulcânica recente em Vênus foram observadas pela primeira vez, descoberta que surpreendeu a comunidade científica e pode trazer pistas sobre o misterioso cataclisma que levou o planeta a ter uma atmosfera espessa, quente e tóxica. Elas foram detalhadas em um estudo publicado na revista Science, na quarta-feira (15).
Para encontrar os indícios de vulcões ativos na superfície venusiana, pesquisadores da Universidade do Alasca (Estados Unidos) utilizaram imagens feitas no início dos anos 1990 pela missão Magellan, da NASA. Eles analisaram principalmente os registros da região Atla Regio, onde ficam os vulcões Maat Mons e Ozza.
A partir de uma análise minuciosa, foi possível descobrir que a cratera do Maat Mons mudou de formato e tamanho em um intervalo de oito meses. Na primeira imagem feita pela espaçonave, em fevereiro de 1991, a abertura era circular e tinha extensão de 2,2 km².
(Fonte: NASA/Divulgação)
Já em outubro, a nova foto tirada pela missão mostrou uma cratera ainda maior, se estendendo por aproximadamente 4 km², com formato irregular e preenchida por algum tipo de material. De acordo com os autores, a mudança sugere a ocorrência de atividade vulcânica.
O material preenchendo a abertura do Maat Mons, na foto do final do ano, deixou os especialistas em dúvida. Havia a possibilidade de serem pedaços de rochas que foram parar ali após um terremoto, além da chance de que já estivesse no local na época da primeira imagem, não tendo sido visualizado devido à baixa resolução e à captura de ângulos diferentes.
Para uma análise mais detalhada, o coautor do estudo, Robert Herrick, teve a ajuda do especialista em dados de radar como os registrados pela missão Magellan, Scott Hensley. Unindo seus conhecimentos, eles desenvolveram modelos computacionais da abertura do vulcão e testaram diversos cenários de eventos geológicos, incluindo os deslizamentos de terra.
Modelo 3D do vulcão Maat Mons. (Fonte: NASA/Divulgação)
Depois dos testes, ambos concluíram que somente a erupção vulcânica seria capaz de causar a mudança observada. “Apenas algumas das simulações corresponderam às imagens, e o cenário mais provável é que a atividade vulcânica ocorreu na superfície de Vênus durante a missão Magellan”, explicou Hensley.
Ainda segundo os cientistas, o tamanho do fluxo de lava gerado pela explosão do vulcão em Vênus teria sido equivalente ao material liberado durante a erupção do Kilauea em 2018, no Havaí.
A descoberta de atividade vulcânica recente em Vênus era esperada após as próximas missões rumo ao planeta vizinho, que contarão com tecnologias mais avançadas. Uma delas é a VERITAS, da NASA, que usará radar de última geração para criar mapas 3D e infravermelho para verificar do que é feita a superfície venusiana.
Outra missão a Vênus já confirmada é a EnVision, da Agência Espacial Europeia (ESA), que deve partir no início da próxima década para complementar o trabalho da VERITAS.