Naufrágios: como funciona a degradação de materiais no mar?

As dinâmicas ocorridas no fundo do mar nos despertam muito interesse, uma vez que apesar da aparente tranquilidade, elas também podem abrigar questões que não são inteiramente compreendidas, motivando a realização de estudos constantemente.

E quando pensamos sobre o processo de degradação de materiais no meio aquático, muitas dúvidas surgem. Isso porque, não raramente, objetos diversos, como embarcações inteiras, são resgatados das águas em ótimas condições, mesmo após décadas. Mas, afinal, o que poderia explicar isso?

(Fonte: Getty Images/Reprodução)

Entendendo a dinâmica

Enquanto no ambiente terrestre a ação do oxigênio e de agentes decompositores se dá de forma bem evidente, no mar, os diferentes tipos de materiais também estão sujeitos a esse tipo de processo, ainda que de forma menos pronunciada.

Afinal, no mar, as reações químicas também ocorrem e dependem bastante das condições que as águas apresentam. Em águas mais quentes, por exemplo, há maior concentração de espécies decompositoras. Mas além da temperatura, há outros fatores atuantes.

Quando nos voltamos para os materiais orgânicos, é bem evidente como eles são mais suscetíveis à degradação. E como nos mares e oceanos também há uma maior concentração de organismos que consomem esse tipo de material, assim como na superfície, ele também se degrada numa velocidade maior quando submerso.

Ainda assim, é importante destacar que o oxigênio desempenha um papel bastante importante nesse processo, de modo que, quanto maior a sua concentração, mais rapidamente ocorre a degradação dos diferentes tipos de materiais. Há um caso famoso, inclusive, que pode mostrar como a ausência de oxigênio atua como um determinante.

Visão do Mar Negro no mapa. (Fonte: Getty Images/Reprodução)

O caso de naufrágio mais antigo já descoberto

Em 2018, o Projeto de Arqueologia Marítima do Mar Negro (sigla MAP, em inglês) revelou que havia sido encontrada uma embarcação de madeira com cerca de 2400 anos, sendo pertencente ao período em que as antigas cidades-estado gregas realizavam viagens comerciais na região.

Localizada numa área que fica a 80 quilômetros de distância da costa da Bulgária e mais de um quilômetro abaixo da superfície, a embarcação foi identificada graças ao uso de câmeras de profundidade.

O navio grego de madeira localizado, com cerca de 23 metros, passou, então, a ser considerado o caso de naufrágio mais antigo já descoberto até então. Não bastando isso, o achado também surpreendeu por apresentar uma construção em excelente estado, mesmo após tanto tempo, auxiliando pesquisadores no trabalho de analisar detalhes das embarcações antigas.

Apesar de se tratar de uma descoberta incomum, não se trata da única realizada no Mar Negro. Isso porque suas águas apresentam características específicas, como a menor diluição de oxigênio nas suas áreas mais profundas, tornando a água anóxica e impedindo que certos processos físicos e químicos se desenvolvam.

(Fonte: Getty Images/Reprodução)

Fatores atuantes

Essa configuração, por exemplo, justifica o porquê do Mar Negro ter tantos casos de naufrágios com embarcações mais preservadas. Mas como resultado disso, peixes, plantas, fungos e outras espécies não conseguem se desenvolver no seu interior, a menos que sejam adaptadas para essas condições mais extremas.

De uma forma geral, quando falamos da degradação dos materiais, quanto mais próximo da costa, maior é a exposição a processos de agentes degradantes, sejam eles orgânicos ou não.

E quando consideramos o quanto os mares e oceanos apresentam características bem distintas quando comparados, a exemplo da concentração de oxigênio e de micro-organismos, concluímos que todos esses fatores se relacionam e determinam uma capacidade distinta (e mesmo limitada) de degradação da matéria dentro da água, a depender da sua configuração.