Neandertais podem ter colecionado crânios de animais na Europa

Pesquisadores da Universidade Complutense de Madri identificaram resquícios surpreendentes de neandertais que prosperaram há milênios no antigo território espanhol. Segundo um novo estudo arqueológico, grupos pré-históricos colecionavam crânios e chifres de animais enquanto caminhavam quilômetros entre campos de caça e assentamentos arrastando suas presas.

Os registros fazem menção à época de 60 mil anos atrás, quando os primeiros dominadores da natureza terrestre se acampavam em locais determinados para comer, caçar, fabricar ferramentas e preparar peles ao redor de fogueiras. Porém, novos achados indicam que essas não eram as únicas atividades realizadas durante os tempos antigos, e alguns indivíduos faziam coisas que poderiam ser, no mínimo, "muito estranhas".

Em um valo localizado no centro da Espanha, foram encontrados restos de cerca de 25 neandertais, que teriam se hospedado ao ar livre e em uma pequena colina voltada para o oeste. Lá, uma caverna chamada "Des-Cubierta" acabou chamando a atenção dos exploradores e revelou um padrão onde chifres de veado, crânios de cervos e ossos da cabeça de rinocerontes-das-estepes se dispunham em uma espécie de arquivo de coleção.

(Fonte: Atlas Obscura / Reprodução)

“Começamos encontrando um crânio de bisão — não um crânio completo, apenas o osso frontal com chifres colocados para cima e protegidos com blocos de pedra. Não tivemos nenhuma explicação. Continuamos escavando e encontramos mais do mesmo. Nada mais. Nenhum osso relacionado a comida, nenhum osso de mandíbula ou crânio de animais menores como cavalos. Encontramos mais chifres de bisões e auroques — animais enormes que facilmente pesavam mais de 900 quilos”, explica Juan Luis Arsuaga, professor da Universidade Complutense de Madri.

Ao todo, 35 crânios de grandes animais foram encontrados pelos pesquisadores, com todos contendo chifres ou galhadas impressionantes. Aparentemente, seus algozes obtiveram carnes por temporadas, logo após caminhar por quilômetros enquanto buscavam seus alimentos e de processar os ossos para "registrar" a alegria e a vitória de ter encontrado algo tão grandioso para a sobrevivência. Assim, eles poderiam estar relacionados a troféus ou a rituais.

(Fonte: Atlas Obscura / Reprodução)

“O comportamento simbólico é um verdadeiro pântano para os arqueólogos. Mesmo se você estiver falando de arqueologia bíblica, é difícil encontrar provas conclusivas. Se não tivéssemos registros do que era uma cruz cristã, alguém poderia argumentar que era algum tipo de ferramenta utilitária”, diz o paleoantropólogo Fred Smith, da Illinois State University. “A arqueologia neste local é sólida e a explicação é perfeitamente razoável, mas simplesmente não podemos dizer com certeza.”

Mais coleções de crânios pelo mundo?

Os pesquisadores acreditam que a publicação do projeto impulsionará a pesquisa sobre coleções antigas e sobre como o comportamento dos neandertais inspirava hábitos considerados controversos ou desconhecidos. Desde 2010, esses humanos primordiais são relacionados constantemente a estudos dos Homo sapiens e podem indicar como surgiram as grandes tendências modernas referentes às conquistas e ao esforço em sobreviver.

“Não há razão para postular que havia uma diferença significativa na cognição e nas capacidades entre os neandertais ou as populações humanas na África na época. O ônus de provar o contrário recai sobre quem defende a superioridade”, disse o paleoantropólogo português João Zilhão, professor da Universidade de Lisboa.

“Mas quando você pensa sobre o comportamento, pode cometer erros em ambas as direções: superinterpretar o comportamento passado de nosso ponto de vista moderno e assumir que o Homo sapiens é a única espécie capaz de comportamento simbólico”, conclui a zooarqueóloga Rosa Huguet, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social.