Ciência
22/04/2023 às 08:00•2 min de leitura
Há cerca de 34 mil anos que o endocruzamento, ou incesto — o cruzamento entre indivíduos geneticamente próximos, como primos ou irmãos —, acontece entre os seres humanos modernos. Apesar de a prática ter perdido a força ao longo dos séculos, a endogamia permanece em muitas partes do mundo, como no Paquistão, Arábia Saudita, Líbano, Egito e Israel.
Uma pesquisa liderada por Martin Sikora, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, descobriu analisando restos humanos encontrados no sítio arqueológico de Sungir, na Rússia, que mesmo há 34 mil anos, os nossos ancestrais já sabiam que o incesto era uma má ideia.
(Fonte: Science News/Reprodução)
Isso porque, mesmo em sociedades extremamente pequenas, a endogamia não aconteceu naquele período, sugerindo que os primeiros humanos acasalaram fora de seus próprios clãs em vez de se arriscarem a ter os problemas que surgem ao fazer sexo com parentes.
O endocruzamento pode causar malformações ou características prejudicais, problemas de fertilidade, abortos espontâneos excessivos, vulnerabilidade nos sistemas imunológicos, propensão a doenças infeciosas e doenças recessivas.
Um dos efeitos mais claros do endocruzamento aconteceu na família Whittaker, o caso de incesto mais infame do mundo.
(Fonte: YouTube/Reprodução)
A primeira vez que o mundo ouviu falar da estranha família da longínqua aldeia rural Odd, na Virgínia Ocidental, nos Estados Unidos, foi por meio da fotografia que Mark Laita tirou dos Whittakers e colocou em seu livro Created Equal (2004).
Demorou até 2020 para que Laita os visitasse de novo, dessa vez para gravar um minidocumentário com seu celular para mostrar como vive a família endogâmica mais antiga dos EUA. O vídeo alcançou mais de 25 milhões de visualizações em uma semana no YouTube, acumulando mais dislikes do que o normal — isso porque Laita capturou as consequências extremas do incesto.
Cercados e protegidos pelos vizinhos e autoridades locais, os Whittakers praticam incesto há algumas gerações, de acordo com um estudo que revelou que os pais dos membros remanescentes da família eram primos. Como resultado, Lorraine, Freddie e Ray nasceram com anormalidades físicas e sofrem de uma condição mental não diagnosticada que faz, por exemplo, o primo Timmy latir como um cachorro, enquanto Ray apenas grunhe.
(Fonte: Daily Record/Reprodução)
Vivendo em condições extremamente precárias, a família que luta para sobreviver é de ascendência britânica e ninguém mais sabe nada deles. A falta de comunicação e a não educação dos membros ainda restantes impedem que haja qualquer informação.
Um dos motivos de Laita ter conseguido se aproximar e extrair o mínimo sobre a história dos Whittaker é porque fez alguns agrados financeiros à família e provou que sua intenção não era ridicularizá-los. Mas ele encorajou que ninguém se aventure até Odd para saber sobre eles por se tratar de uma situação perigosa.
(Fonte: Conservation Bytes/Reprodução)
Relatórios revelam que os descendentes consanguíneos sofrem de deficiências cognitivas, distúrbios de função pulmonar, doenças cardíacas e são propensos a doenças recessivas.
A endogamia ainda é uma prática comum em locais remotos dos EUA, como a Virgínia Ocidental, embora sua reputação associada aos Whittakers tenha sido adquirida por anos de estereótipos sociais.
(Fonte: How Stuff Works/Reprodução)
Há muito que a endogamia na região é associada à pobreza do estado, com os jornais nacionais publicando fotos de barracos degradados e crianças descalças e farrapilhas, deixando essa impressão duradoura no senso comum desde a década de 1930.
Não é para menos que os oeste-virginianos são vistos como "caipiras" sem contato com a civilização, com o incesto servindo como uma explicação quase que científica para atestar a "condição social oprimida" deles.