Franceses e americanos já debateram projeto para inundar o Saara

23/05/2023 às 09:002 min de leitura

O deserto do Saara é provavelmente o deserto mais famoso do mundo. Local de grande beleza e de vida selvagem muito resiliente, o deserto sempre impôs um grande desafio ao desenvolvimento da atividade humana na região. Não por acaso, ao longo dos últimos dois séculos, muitos estudiosos sugeriram algo surpreendente: inundar o Saara e transformá-lo em um mar dentro do continente africano.

Um projeto audacioso como esse sempre chamou a atenção de engenheiros importantes, mas, devido aos custos, ele nunca atraiu quem o bancasse. Agora, com as mudanças climáticas, a ideia de transformar o deserto em mar virou assunto entre empresas de tecnologia.

O Saara já foi mar

Fonte: Getty ImagesFonte: Getty Images

O que conhecemos como Saara já foi o lar de muitas espécies aquáticas. Há 100 milhões de anos, o deserto era coberto por um mar de três mil quilômetros quadrados, cuja profundidade média era de 50 metros.

Em entrevista ao The Guardian, a pesquisadora Maureen O’Leary descreveu como era a paisagem da região nessa época: "As nossas novas reconstruções paleontológicas mostram uma rica e verde floresta. O antigo ecossistema do Mali tinha ainda inúmeros predadores e algumas das maiores espécies aquáticas do mundo". E a água era, claro, quente.

Contudo, a ação das placas tectônicas há mais ou menos sete milhões de anos teria sido a responsável por encerrar o fluxo de água que alimentava esse mar, transformando a região em um deserto.

Ideia de transformar Saara em mar é antiga

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No século XIX, o engenheiro britânico Donald Mackenzie foi um dos primeiros a encampar essa ideia. Ele acreditava ser possível usar canais para levar água do Oceano Atlântico e do Mar Mediterrâneo para dentro do continente, inundando as partes que estão abaixo do nível do mar.

Dessa forma, seria possível criar um mar interno com mais de 155 mil km². Devido aos altos custos, o governo francês rejeitou o projeto.

No século seguinte o tema voltou a ser debatido, sob o argumento que essa inundação do deserto aumentaria as áreas habitáveis no Norte do continente africano, além de contribuir para a agricultura. Mas, novamente, os custos se mostraram um empecilho.

Na sequência, os EUA viram nesse projeto a possibilidade de usar bombas atômicas fora dos cenários de guerra — que era um objetivo da chamada “Operação Plowshare”.

Como o Egito havia nacionalizado o Canal de Suez, os americanos desejavam a criação de um novo canal. Logo, os grandes gastos que desmotivaram os franceses do desejo de alagar o Saara poderiam ser minimizados usando as bombas.

O problema é que essa ideia resultaria em um grande desastre ambiental, contaminando as águas dos lençóis freáticos com sal e radioatividade — além de desalojar milhares de pessoas.

Inundar o deserto ainda é um tema debatido

Hoje, o debate sobre transformar parte do Saara em um mar chama a atenção pela sua capacidade de gerar eletricidade para alguns países, como o Egito. Além disso, a criação de espécies de algas poderia ser usada para combater a emissão de gases que contribuem para o aquecimento do planeta.

Todavia, os riscos são altos. Devido à alta temperatura, a evaporação da água seria rápida, o que poderia tornar a área alagada em um grande depósito de sal. A empresa de tecnologia Y Combinator demonstrou interesse no projeto, mas admitiu que os riscos de fracasso são altos.

Sendo assim, pode ser mais fácil transformar o Saara em floresta do que em mar.

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