Ciência
18/06/2023 às 10:00•3 min de leitura
Não é à toa que várias descobertas misteriosas são feitas na África do Sul: com cerca de 30 milhões de metros quadrados e cobrindo 20,3% da área total do planeta, o continente africano guarda muitos segredos e curiosidades.
Durante a segunda metade do século XX, inclusive, relatos sobre achados intrigantes nas minas próximas à cidade de Ottosdal, no país sul-africano, começaram a surgir. Esses achados consistiam em esferas polidas com traços meticulosamente esculpidos, que se assemelhavam a bolas de críquete.
A princípio, parecia que esses objetos, com menos de 10 centímetros de diâmetro, tinham sido moldados por mãos humanas e representavam relíquias de uma civilização ancestral. Entretanto, o mais surpreendente é que essas esferas foram encontradas dentro de uma rocha de pirofilita, um mineral utilizado em esculturas chinesas, formada há cerca de 2,8 bilhões de anos!
Isso mesmo, estamos falando de uma era em que os dinossauros dominavam a Terra e a inteligência humana ainda não era nem um traço no horizonte. As tais esferas foram levadas para a cidade de Klerksdorp, no norte da África do Sul, onde foram minuciosamente estudadas e, mais tarde, ganharam um lugar de destaque no museu local. Foi por causa dessa aventura que elas passaram a ser chamadas de "esferas de Klerksdorp".
(Fonte: Wikimedia Commons)
No início dos anos 1980, começaram a surgir artigos em revista pseudocientíficas que espalharam várias teorias da conspiração sobre essas pedras. Alguns diziam que elas tinham origem alienígena e eram "provas irrefutáveis de uma visita extraterrestre" antes mesmo da gente pisar por aqui.
Para o geólogo sul-africano Bruce Cairncross, da Universidade de Joanesburgo, essas maluquices surgiram porque, na época, não haviam estudos geológicos sérios o suficiente que explicassem a verdadeira história dessas esferas. Ele aponta que as pedras estão longe de ser um enigma digno de um episódio de Arquivo X e descarta qualquer possibilidade de serem vestígios de visitantes alienígenas em nosso planeta.
"Não se acreditava na necessidade de explicar algo que parecia óbvio: as pedras haviam sido extraídas de rochas formadas há bilhões de anos. Embora tivessem chamado a atenção, esses tipos de esferas são muito comuns nas formações de pirofilita", contou Cairncross em entrevista à BBC News Mundo.
Agora, como elas ganharam essa forma redondinha quase perfeita? Essa é uma pergunta interessante!
(Fonte: Wikimedia Commons)
Segundo o portal IFLScience, durante a década de 1980, foram divulgados artigos sem base científica dizendo que as esferas de Klerksdorp foram feitas por "uma civilização avançada que existiu antes do grande dilúvio, aquele do qual nada sabemos". E para deixar a coisa ainda mais emocionante, teve gente que afirmou que as esferas ficavam girando sozinhas dentro da vitrine onde estavam expostas. Dá até arrepios, não é?
Por isso, uma sociedade conhecida como Society for the Rational Investigation of Paranormal Phenomena buscou a colaboração de Cairncross para refutar os argumentos que ganhavam cada vez mais seguidores. E não foi só explicar o óbvio, não! Além de dizer que elas se formaram há mais de 2,8 bilhões de anos, eles tiveram que cavar mais fundo e expor como as pedras ganharam a forma perfeitamente redonda.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que as esferas foram produzidas por um processo conhecido como “grupo dominante”, que envolve a formação da pirofilita em torno da bola. “A principal característica é o que forma esse conglomerado, com várias camadas de lava vulcânica que se depositaram no topo e que, depois de muita pressão e calor, se transformaram em pirofilita, que é o que recobre as esferas”, explicou o geólogo.
O maior segredo das pedras é terem ficado lá sob uma pressão e calor absurdos, todo esse tempo, dentro de uma rocha maior que as "acolheu", e terem sido expostas à erosão da água. Foi como se elas tivessem vivido uma aventura selvagem de sobrevivência!
Típicas formações de "grupos dominantes" de pirofilitas. (Fonte: Wikimedia Commons)
Cairncross decidiu se manifestar mais amplamente sobre as esferas porque percebeu muita gente caindo nas fake news de publicações pseudocientíficas. O geólogo mencionou uma revista que espalhou a notícia de que as esferas tinham sido levadas para a NASA, a Agência Espacial dos Estados Unidos, e até citava um relatório maluco dizendo que as peças tinham sido produzidas em um lugar com gravidade zero.
Entretanto, o especialista admite que as esferas de Klerksdorp têm uma peculiaridade que talvez não seja tão comum em outras esferas parecidas encontradas pelo mundo — as linhas paralelas que cortam elas, dando a aparência de uma bola de críquete.
"Sabe o que são essas linhas? Na verdade, são camadas!", revelou o geólogo. "Isso é resultado dos rastros deixados pela rocha hospedeira, que foram se acumulando em camadas ao longo de muitíssimo tempo, criando esse efeito maravilhoso que vemos nelas", finaliza. Coisas da natureza e não de extraterrestres, né?