Estilo de vida
14/07/2023 às 08:00•2 min de leitura
Evidências da geleira mais antiga do mundo foram encontradas na África do Sul, uma região bastante improvável. A descoberta, detalhada em um estudo que saiu na revista Geochemical Perspectives Letters, em junho, pode revelar detalhes das intensas variações climáticas experimentadas pela Terra primitiva.
As moreias glaciais fossilizadas, datadas de 2,9 bilhões de anos, foram localizadas abaixo dos maiores depósitos de ouro do planeta, no território sul-africano. Esses vestígios consistem em detritos deixados pela geleira, que estavam “extremamente bem preservados”, de acordo com os cientistas.
Para confirmar a evidência física, a equipe composta por pesquisadores das universidades de Joanesburgo (África do Sul) e de Oregon (Estados Unidos), analisou as concentrações de isótopos de oxigênio deixadas nas rochas. Eles encontraram três tipos — 16O, 17O e 18O — que apresentam pesos moleculares ligeiramente diferentes.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
A investigação verificou uma baixa presença do isótopo 18O e altas quantidades do 17O, sugerindo que as rochas foram formadas em temperaturas extremamente baixas. “Junte essa evidência geoquímica com a evidência da moreia, e isso significa geleiras, as geleiras mais antigas já encontradas na Terra”, explicou o coautor do estudo, Ilya Bindeman, em comunicado.
Com a descoberta dos restos da geleira de 2,9 bilhões de anos na África do Sul, os pesquisadores agora querem saber os motivos que levaram à formação de gelo naquela parte do planeta. Não há informações exatas sobre as condições climáticas da Terra naquele período, mas os autores do estudo trabalham com algumas possibilidades.
Uma delas é a de que a área estivesse mais próxima dos polos na época, levando à presença de enormes calotas de gelo continentais por ali. Outra hipótese sugerida por eles diz respeito à teoria “Terra Bola de Neve”, período no qual o planeta apresentou baixas concentrações de dióxido de carbono e metano.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Neste último caso, as condições experimentadas teriam levado à formação de um “efeito estufa reverso”, resultando no congelamento de grande parte da Terra. Acredita-se que isso tenha ocorrido em algumas ocasiões no passado recente e é possível que os vestígios da geleira sejam uma prova deste fenômeno.
“Se assim for, este seria o primeiro período de resfriamento global registrado. Qualquer uma das possibilidades é cientificamente interessante”, entusiasmou-se o professor Axel Hofmann, que também participou da pesquisa.
Discutidas há décadas, as evidências de glaciação da Terra primitiva são baseadas principalmente em evidências sedimentológicas. Mas o método de análise tripla de isótopos de oxigênio, utilizado neste estudo recente, pode significar a adição de novos caminhos para melhorar a pesquisa sobre as condições climáticas do planeta no passado.
“O ciclo biogeoquímico do carbono não apenas controla o clima, mas também o teor de oxigênio atmosférico e esses dados provavelmente desencadearão estudos de acompanhamento sobre a oxigenação transitória naquele momento”, explicou o professor Andrey Bekker, da Universidade da Califórnia (EUA).