Artes/cultura
18/08/2023 às 08:00•2 min de leitura
Há muito pesquisadas por paleobiólogos, as circunstâncias sobre quando, onde e com que frequência as relações sexuais entre espécies de hominídeos diferentes ocorreram no Pleistoceno parecem ter sido finalmente explicadas em um estudo publicado neste mês por uma equipe de pesquisadores da Universidade Nacional de Pusan, na Coreia do Sul, e Universidade de Nápoles Federico II, na Itália.
De acordo com o estudo, variações no movimento orbital da Terra em torno do Sol e alterações no dióxido de carbono atmosférico resultaram em mudanças no clima e na vegetação, "que influenciaram o tempo e a intensidade de possíveis eventos de cruzamento". O resultado — uma filha de pai denisovano e mãe neandertal — foi descoberta por cientistas em 2018.
Chamada de Denny, essa pessoa que viveu há 90 mil anos, além de outros indivíduos de ascendência mista encontrados na mesma caverna, são provas de que o intercruzamento entre espécies era não só possível, como também comum entre os hominídeos da época, não se limitando apenas à nossa própria espécie Homo sapiens como ocorre hoje.
(Timmermann et al.)
A grande dificuldade para determinar quando e onde essa hibridização humana ocorreu é a precarização das análises paleogenômicas, geralmente dependentes de evidências fósseis extremamente raras ou DNA antigo ainda mais exíguo. No novo estudo, especialistas em clima sul-coreanos e paleobiólogos napolitanos adotaram uma abordagem totalmente nova.
Usando achados paleoantropológicos, dados genéticos e simulações de supercomputadores do clima passado, os pesquisadores descobriram que os denisovanos eram mais adaptados a ambientes frios (florestas boreais e tundras), ao passo que os neandertais preferiam florestas temperadas e pastagens.
No entanto, simulações de computador realistas mostraram que esses habitats eventualmente se sobrepunham geograficamente, durante períodos interglaciais quentes, quando o verão do hemisfério norte ocorria mais perto do Sol. Segundo o professor Axel Timmermann, da Pusan, "quando neandertais e denisovanos compartilhavam um habitat comum", o clima literalmente esquentava entre eles.
(Fonte: GettyImages)
Nas simulações climáticas, a equipe se deteve sobre alterações no padrão da vegetação na Eurásia durante os últimos 400 mil anos. De acordo com o estudo, o aumento de CO2 na atmosfera e as condições interglaciais amenas expandiram a floresta temperada da Eurásia central para o leste, criando corredores de dispersão para os neandertais em terras denisovanas.
Mas, determinar as condições climáticas preferidas pelos denisovanos foi um grande desafio para os pesquisadores, devido à escassez de dados disponíveis, segundo o coautor Pasquale Raia, da Federico II. Criando novas ferramentas estatísticas, eles foram surpreendidos com a descoberta de que, "além de áreas na Rússia e na China, também o norte da Europa seria um ambiente adequado para eles", concluiu.
Em comunicado, o primeiro autor do artigo, professor Jiaoyang Ruan, da Busan, explica: “É como se as mudanças glaciais-interglaciais do clima tivessem criado o cenário para uma história de amor humana única e duradoura, cujos traços genéticos ainda hoje são visíveis”.