Ciência
22/08/2023 às 09:00•2 min de leitura
Imagine viajar no tempo e dar de cara com Ötzi, o "Homem de Gelo", que viveu há cerca de 5.300 anos nos Alpes de Venoste, entre a Áustria e a Itália. Agora, graças a avanços em pesquisas genéticas, podemos ter uma visão mais clara de quem ele realmente era, como ele se parecia e até mesmo algumas das peculiaridades de sua saúde.
Ötzi, cujo corpo foi encontrado por turistas alemães em 1991 após o derretimento do gelo da montanha continua a nos surpreender com sua vida intrigante.
Reproducão do Ötzi exposta no Museu de Arqueologia de Tirol do Sul. (Fonte: Iceman - Museu de Arqueologia de Tirol do Sul / Divulgação)
De acordo com um novo estudo publicado na revista Cell Genomics, os cientistas sequenciaram o genoma de Ötzi, revelando que ele tinha olhos castanhos, cabelos escuros e um tom de pele mais escuro do que os pesquisadores achavam anteriormente.
Esses traços não só contradizem as representações tradicionais do europeu de pele clara e cabelos louros, mas também destacam suas raízes ancestrais. A análise genética sugere que Ötzi descendia dos primeiros agricultores da Anatólia, atual Turquia, que migraram para a Europa há cerca de 9 mil anos.
Curiosamente, o estudo também aponta para uma característica que muitos de nós considerávamos moderna, mas que parece atormentar os homens desde o início da espécie: a calvície masculina — Ötzi tinha predisposição genética para ficar careca, algo que ele compartilhava com muitos homens de meia-idade de hoje em dia (e até mais jovens, infelizmente). Assim, ele pode ou não ter tido cabelos longos e rebeldes, mas certamente poderia estar na fila do transplante capilar milênios depois.
Além de suas características físicas, a pesquisa nos fornece dicas interessantes sobre sua saúde. Segundo ficou demonstrado na análise de DNA, Ötzi teria predisposição para doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e obesidade.
No entanto, é preciso lembrar que a época do Homem de Gelo não é cheia de comodidades como a nossa. Seu estilo de vida ativo e sua dieta parecem ter superado essas predisposições genéticas, mostrando como os fatores ambientais podem desempenhar um papel crucial na saúde, mesmo em tempos antigos.
Pesquisadores buscam entender a realidade da região na época de Ötzi. (Fonte: Cell Genomics - We Wang / Divulgação)
Embora saibamos muito sobre Ötzi, ainda há mistérios a serem desvendados. Sua genética nos dá uma visão de sua história pessoal, mas não podemos esquecer que ele viveu cercado por outros que tiveram suas próprias histórias para contar.
Os pesquisadores estão trabalhando para coletar mais dados genéticos de outros indivíduos da região, na esperança de entender melhor o contexto em que Ötzi viveu e como ele se encaixa na narrativa mais ampla da humanidade.
Suas características físicas, suas origens ancestrais e até mesmo suas condições de saúde nos lembram que, apesar das distâncias no tempo, temos muito mais em comum com nossos antepassados do que imaginávamos. A história de Ötzi é uma janela para nossa própria história evolutiva.