Artes/cultura
26/09/2023 às 09:00•2 min de leitura
Durante milhares de anos, antigas manchas de solo negro superfértil foram encontradas espalhadas por toda a Floresta Amazônica, o que ajudou a sustentar comunidades agrícolas na selva densa por muito tempo. Nas últimas décadas, no entanto, arqueólogos têm lutado para encontrar uma explicação para a chamada "Terra Preta de Índio".
Novas pesquisas mostram que esse tipo de terreno foi criado intencionalmente por culturas antigas — e continua sendo produzido por comunidades indígenas modernas até hoje. A terra escura é rica em componentes vitais, como carbono, fósforo e potássio, permitindo às pessoas cultivarem em áreas que, ao contrário, seriam inférteis.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em comunicado oficial, o autor do estudo, Taylor Perron, falou um pouco mais sobre a importância da terra escura na região. “Se você quer ter assentamentos grandes, precisa de uma base nutricional. Mas o solo na Amazônia é extensivamente lixiviado de nutrientes e naturalmente pobre para o cultivo da maioria das culturas”, explicou.
Sendo assim, o processo longo criado por tribos indígenas mudou completamente a capacidade daquele solo de produzir. Até agora, no entanto, os estudiosos ainda estavam divididos sobre a origem desse tipo de solo, com parte da comunidade científica sugerindo que ele foi cultivado deliberadamente, enquanto outros afirmavam que tudo isso é um subproduto acidental de outras práticas agrícolas.
Para chegar às raízes do problema, Perron e sua equipe de pesquisa viajaram para o território indígena Kuikuro, na Amazônia brasileira. Nessa parte da floresta, manchas densas de terra escura foram observadas tanto em sítios antigos quanto em aldeias modernas.
No atual assentamento indígena de Kuikuro II, os pesquisadores notaram como os moradores locais acumulavam grandes quantidades de resíduos orgânicos ricos em nutrientes provenientes da pesca e da agricultura de mandioca. Depois de alguns anos, esses montes foram compostados e formaram o solo diferente, que foi então usado para o plantio de culturas que exigem mais nutrientes e não crescem tão bem em solos amazônicos não modificados.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Para determinar se essas mesmas práticas foram utilizadas num passado distante, a equipe de cientistas comparou a terra escura de Kuikuro II com amostras retiradas de sítios arqueológicos próximos, incluindo algumas aldeias antigas que um dia foram o lar dos antepassados daquela tribo. A amostra mais antiga possuía cerca de 5 mil anos.
Os resultados indicaram que a disposição espacial da terra escura nesses antigos assentamentos era muito similar ao que acontecia nos dias de hoje, com a maioria depositada no centro da aldeia. A composição do solo também parecia idêntica, com ambas exibindo um enriquecimento dez vezes maior em fósforo, potássio, cálcio, magnésio, manganês e zinco em comparação aos solos amazônicos não modificados.
"Os antigos amazônicos colocaram muito carbono no solo e muito disso ainda existe hoje, algo que queremos para os esforços de mitigação das alterações climáticas", enalteceu um dos autores da pesquisa, Samuel Goldberg. Na visão dos pesquisadores, é possível que algumas dessas estratégias possam ser adaptadas numa escala maior — com a intenção de reter carbono —, de forma que auxilie comunidades agrícolas em escala global.