Ciência
11/10/2023 às 09:00•2 min de leitura
De acordo com os livros de história, os primeiros humanos a pisar nas Américas teriam migrado através de uma ponte terrestre para o Alasca há cerca de 14 mil anos, depois do derretimento das geleiras na Idade do Gelo. No entanto, a descoberta de pegadas humanas na areia alcalina do Parque Nacional White Sands, no Novo México, tem desafiado essa teoria.
A descoberta feita em 2021 mostra pegadas que datam entre 23 mil a 21 mil anos atrás. Agora, uma nova análise feita com duas técnicas diferentes confirmou a data, fornecendo uma prova aparentemente incontestável de que os humanos já viviam na América do Norte durante o auge da última Era do Gelo.
(Fonte: USGS/Divulgação)
Na época que pesquisadores publicaram o artigo original na revista Science, houve muita cautela para não reivindicar mudanças históricas. Na visão dos pesquisadores, se as pessoas estivessem nas Américas 7 mil anos antes da cultura Clóvis, mais evidências deveriam ter surgido com o tempo.
A cultura Clóvis, batizada em homenagem a um sítio arqueológico de 13,5 mil anos no Novo México, é caracterizada por distintas ferramentas de pedra e osso encontradas em estreita associação com animais do Pleistoceno ou da Idade do Gelo. Embora haja relatos crescentes de outros locais da América do Norte e do Sul onde humanos parecem ter matado animais ou ocupado assentamentos há mais de 16 mil anos, a teoria de que a cultura Clóvis foi a primeira na nossa região ainda era bastante dominante.
Assim, quando os investigadores do Serviço Geológico dos EUA (USGS) e uma equipe internacional de cientistas afirmaram que a pegada encontrada no Novo México tinha uma idade de aproximadamente 23 mil anos, houve muita resistência acadêmica. O motivo? As sementes encontradas com a pegada, o que serviu de material para a datação, era uma planta aquática comum.
Na visão de alguns pesquisadores, datar plantas aquáticas pode ser problemático, porque elas absorvem carbono dissolvido em vez de carbono do ar. O carbono dissolvido pode ser mais antigo porque provém da rocha circundante, potencialmente fazendo com que a idade medida pela datação por radiocarbono seja mais velha do que realmente é.
(Fonte: GettyImages)
Para confirmar a idade da pegada, os cientistas envolvidos no estudo testaram uma segunda técnica. Em laboratório, eles isolaram meticulosamente os grãos de pólen das sementes por meio de várias etapas, incluindo separação física e química. Em todos os casos, a idade do pólen foi estatisticamente idêntica à idade correspondente da semente.
"O pólen nas amostras veio de plantas normalmente encontradas em condições glaciais frias e úmidas, em forte contraste com o pólen da praia moderna, que reflete a vegetação desértica encontrada lá hoje", disse o autor do estudo David Wahl em comunicado oficial.
Além disso, pedaços de quartzo foram expostos na área da pegada, o qual também data para uma idade mínima de cerca de 21,5 mil anos — o que fornece suporte adicional aos resultados de radiocarbono. Com três linhas de evidências distintas apontando para a mesma idade aproximada, é altamente improvável que todas estejam incorretas.
Uma implicação de que pegadas humanas existem na América do Norte há 23 mil anos é que os primeiros colonizadores do continente teriam chegado na região originalmente pelo Alasca, mas antes da terra ser coberta por geleiras, e não depois.