Artes/cultura
03/11/2023 às 09:00•2 min de leitura
O Museu Americano de História Natural, localizado em Nova York, nos EUA, anunciou que deixará de exibir em suas exposições restos mortais de pessoas que não haviam autorizado o uso do seu corpo para finalidades educacionais. Isso inclui os cadáveres de nativos-americanos e de escravos de origem africana. No caso dos ossos de escravos, parte foi retirada de um cemitério, em Manhattan, no ano de 1903.
Ao todo, esse museu tem em seu acervo cerca de 12 mil restos mortais humanos. Quase um quarto desses restos mortais (26%) pertence a indígenas. O restante foi adquirido por meio de escavações arqueológicas ou doados por escolas de medicina. Apenas nesse último caso, o indivíduo, ou seus representantes legais, concordaram no uso dos corpos para finalidades educacionais.
“Devemos reconhecer que, com a pequena exceção daqueles que legaram os seus corpos às escolas médicas para estudo continuado, nenhum indivíduo consentiu que os seus restos mortais fossem incluídos numa coleção de museu”, disse o presidente do Museu Americano de História Natural, Sean Decatur, em um e-mail enviado aos funcionários da instituição.
Ainda de acordo com Decatur, esse acervo gigantesco de restos mortais de indígenas e escravizados só foi possível devido à “desequilíbrios extremos de poder”.
(Fonte: Getty Images)
O presidente do museu ainda tocou em uma ferida da história da instituição: seu passado eugenista. Ocorre que parte desse acervo de cadáveres foi obtido nos séculos XIX e XX, quando a instituição sediava encontros eugenistas que tinham como objetivo demonstrar a superioridade da raça branca em relação às demais. Nesse caso, os corpos eram usados para teorizar essas hipóteses.
Com o tempo, esses estudos se mostraram extremamente falhos e sem nenhuma credibilidade científica. Ainda assim, parte dos restos mortais coletada nesse período permaneceu em poder do museu.
(Fonte: Getty Images)
Em 1990, os nativos-americanos ganharam na Justiça o direito de que todos os museus do país, que recebiam verbas federais, devolvessem os cadáveres dos indígenas às suas famílias. Apesar da decisão judicial, grande parte dos museus, incluindo o Museu Americano de História Natural, permaneceu em silêncio sobre o tema.
Em 2007, a ONU reconheceu que os indígenas de todo o mundo tinham o direito de requisitarem a devolução dos corpos de seus antepassados que estivessem em posse de museus. Apesar das decisões, isso ainda não tem ocorrido.
O e-mail enviado pelo presidente aos seus funcionários mostra que há uma decisão sobre o tema, mas antes desse comunicado, muitos pesquisadores tinha medo de tocar nesse assunto. Muitas entrevistas sobre o tema foram dadas à imprensa, mas sempre em condição de anonimato.
O Museu Americano de História Natural é uma das principais atrações turísticas da cidade de Nova Iorque e recebeu 5 milhões de visitantes em 2019. Além disso, seu acervo é parte do estudo de muitos pesquisadores, das mais variadas partes do mundo.
Agora, a instituição está disponibilizando documentos que ajudarão os descendentes dos mortos a identificarem esses restos mortais e, caso consigam comprovar laços históricos com os corpos, poderão realizar os rituais funerários que desejarem, inclusive, devolvendo os cadáveres aos cemitérios dos quais foram retirados.