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10/11/2023 às 02:00•2 min de leitura
A chamada arqueologia bíblica busca evidências materiais que possam esclarecer os eventos e as pessoas mencionadas no Antigo Testamento, usando os livros considerados sagrados por três das maiores religiões do mundo como um guia para compreensão da história antiga da região onde os fatos relatados supostamente ocorreram.
Nesse árduo trabalho de desenterrar a história com as mãos, os próprios arqueólogos divergem entre si. Enquanto "conservadores" da Universidade Hebraica de Jerusalém afirmam ter identificado grandes estruturas que apoiam a narrativa bíblica, pesquisadores da Universidade de Tel Aviv (TAU) são céticos quanto à exatidão histórica da Bíblica e questionam a existência de edifícios que pudessem comprovar o reino israelita.
Em meio a esse "fogo cruzado", o professor Erez Ben-Yosef da TAU, chefe da Expedição Arqueológica do Vale de Timna desde 2009, concedeu recentemente uma entrevista ao The Times of Israel, na qual propõe uma terceira via: o início da monarquia unida chefiada pelo rei Davi, como descrito na Bíblica, poderia ter sido um reino nômade, apesar de complexo.
(Fonte: Getty Images)
Quando Ben-Yosef chegou a Timna, em 2009, aos 30 anos, o sítio ainda não fazia parte da lista arqueológica de Israel, e era um lugar sem importância, tanto que foi confiado a um pesquisador com credenciais recentes e sem experiência em escavações. Ele veio pesquisar paleomagnetismo, mas acabou entrando por acaso no campo da arqueologia bíblica.
Embora o local já tivesse sido datado conclusivamente por uma expedição anterior como um antigo tempo egípcio, a equipe de Ben-Yosef decidiu cavar e coletou 11 itens de material orgânico, posteriormente enviados para datação por carbono-14 na Universidade de Oxford. Para surpresa de todos, os objetos mostraram que o local esteve ativo durante o tempo do rei Salomão, como descrito na Bíblia.
Nesses materiais orgânicos, conservados pela aridez do clima, os arqueólogos descobriram três fragmentos de tecidos coloridos com o corante púrpura, o roxo real associado ao sacerdócio e à realeza na Bíblia Hebraica. Era a prova que faltava de que ali viveu uma sociedade heterogênea que incluía uma elite.
(Fonte: Erez Ben-Yosef)
Embora os materiais encontrados tenham sido impressionantes, o que mais impressionou foi o que não encontraram: uma cidade, palácio, cemitério ou mesmo uma casa.
Ben-Yosef conclui que, se nada foi achado pelos arqueólogos, é porque nada havia para se achar. Sua hipótese é que, embora avançada, a sociedade edomita descoberta por ele era nômade, sem estruturas permanentes, "invisível para a arqueologia". Isso o levou a questionar se essa itinerância poderia também se aplicar à monarquia unida de Israel.
De acordo com o pesquisador, "reinos inteiros poderiam existir debaixo dos nossos narizes" sem que os arqueólogos sequer os notassem. Assim, Timna foi uma anomalia que destacou os limites do que a ciência pode conhecer.