Estilo de vida
21/11/2023 às 09:00•2 min de leitura
Um grupo de cientistas chineses conseguiram criar o primeiro macaco quimérico do mundo, ou seja, nascido com dois conjuntos diferentes de DNA. Para completar, o novo animal ainda era fluorescente.
A equipe do projeto, liderada pelo renomado pesquisador sênior Zhen Liu, da Academia Chinesa de Ciências (CAS, na sigla em inglês), embarcou em uma inovadora e ousada jornada ao extrair células-tronco de embriões de macacos e injetá-las em embriões não relacionados da mesma espécie, o que culminou em uma gestação. No fim desse processo, a macaca mãe deu à luz um primata totalmente formado.
Processo de criação do macaco quimérico. (Fonte: Cell - Jing Cao et al/ Divulgação)
Essa não é a primeira incursão dos cientistas nesse território intrigante. Experiências anteriores já se utilizaram do método de injetar células-tronco de animais interespécies (inclusive homem e macaco), mas nada como o que foi alcançado desse vez.
Este é o primeiro caso em que o componente genético inserido compõe uma parcela tão significativa do tecido do animal. As células-tronco inoculadas formaram notáveis 92% do tecido cerebral do recém-nascido e uma média de 67% de sua composição geral, abrindo novas portas para a pesquisa em doenças como as neurológicas e para a própria biomedicina.
Utilizando uma proteína verde-fluorescente, os cientistas conseguiram rastrear a presença dessas células em 26 tipos diferentes de tecidos do macaquinho. O nível de contribuição, dizem os especialistas, foi incrivelmente alto, chegando a formar partes importantes em diversas regiões do corpo, incluindo cérebro, coração, rins, fígado e até o trato gastrointestinal.
Contudo, todo o entusiasmo foi ladeira a baixo graças à breve vida do macaco quimérico, que suportou apenas 10 dias antes de sucumbir à insuficiência respiratória e à hipotermia, tornando necessário o sacrifício do animal.
A causa exata dessa degradação acentuada da saúde permanece um mistério, mas há a possibilidade de que as diferenças epigenéticas entre os tipos de células seja o motivo ou, pelo menos, um deles.
Macaco quimérico tem áreas como olhos e ponta dos dedos fluorescentes. (Fonte: Cell - Jing Cao et al/ Divulgação)
A criação de organismos quiméricos certamente levanta o questionamento se "não estariam os humanos brincando de Deus". Embora o método se mostre promissor para o campo da biomedicina, inevitavelmente levanta sérias dúvidas quanto à eticidade da prática.
O termo quimera é oriundo da Grécia e representa um ser mitológico composto de diversos animais. Já na ciência, a expressão é utilizada para descrever organismos formados a partir de diferentes tipos genéticos, que normalmente são alcançados por meio de testes em laboratórios, o que suscita debates acalorados sobre a linha tênue entre a ciência e a moralidade. Até que ponto criar animais que podem sofrer diversos tipos de desordem na saúde é realmente ético?
Contudo, diversos cientistas defendem que, devido à proximidade evolutiva entre humanos e macacos, esses últimos representam uma fonte crucial de conhecimento para compreender as doenças humanas.
Além disso, os pesquisadores afirmam que todo o processo é feito dentro do maior rigor ético possível, numa forma de garantir que os estudos tenham de fato o efeito de desenvolver conhecimento e o de abrir novas possibilidades para a saúde dos primatas.