Projeto Olimpo: NASA trabalha para construir casas na Lua

23/11/2023 às 14:004 min de leitura

Na década de 1960, a obsessão do homem por alcançar o espaço sideral começou pela conquista da Lua, então era de se imaginar que um dia ele fosse querer mais do que apenas fazer explorações em solo lunar e fincar uma bandeira.

Bill Nelson, ex-astronauta, administrador da NASA e senador da Flórida, já declarou que a Corrida Espacial do século XXI é uma realidade. Em vez de os Estados Unidos competirem com a antiga União Soviética, agora enfrentam os chineses que, segundo o governo estadunidense, tenta dominar os recursos lunares ao reivindicar a propriedade das áreas ricas em recursos do satélite natural da Terra.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Em 2022, isso ficou claro quando o programa espacial chinês começou a intensificar suas viagens lunares, construindo até uma estação espacial na órbita da Terra para ajudar em suas várias missões de órbita lunar e recuperação de amostras. Inclusive, está marcado para 2025 uma terceira fase do programa, visando estabelecer uma estação de pesquisa lunar autônoma próximo ao polo Sul da Lua.

Esse cenário não é o único que mostra o quão sério é essa nova fase da Corrida Espacial. Uma vez que os humanos planejam passar mais tempo na Lua, Agência Espacial Europeia decidiu lançar um projeto para atrair empresas privadas para estabelecer um fuso horário lunar.

E isso deve ser essencial para a NASA, que deseja construir casas na Lua até 2040 por meio do seu Projeto Olimpo.

Uma alternativa para a humanidade

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Não é nenhuma hipérbole dizer que as mudanças climáticas tornam cada vez mais incerto o futuro da humanidade na Terra. Em um cenário em que o aquecimento global venceu em todos os aspectos, o nível do mar terá aumentado em proporções avassaladoras, bem como tempestades furiosas destruirão periodicamente cidades inteiras. O calor será um dos maiores inimigos, causando incêndios descontrolados, devastando safras e colheitas, a atraindo secas severas. As consequências, que já afetam nossa saúde, consumirão comunidades, a economia e a possibilidade de um futuro saudável para a nova geração.

Desde o século passado que filmes e livros têm o cuidado de prospectar possibilidades de um mundo pós-apocalíptico em que a humanidade teve que buscar alternativas extremas para não ser extinta. Um exemplo disso foi o que fez a autora estadunidense Kass Morgan ao escrever a série de livros The 100, adaptada em uma famosa e influente série televisiva pela emissora CBS em 2014, mostrando a volta dos humanos para a Terra após 97 anos vivendo em uma estação espacial após uma guerra nuclear ter devastado o planeta.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Tanto para isso quanto para o aquecimento global, essa realidade se tornou tão próxima que movimentou a própria comunidade científica e governamental a procurar alternativas para um futuro saudável para a humanidade.

No entanto, a decisão da NASA em construir casas na Lua não é só para mostrar como é viável a vida fora do nosso planeta, mas também para estabelecer o poderio estadunidense do satélite natural, algo que começou em 1960, retomou em 2022 com o Programa Artemis e deve continuar pelas próximas décadas.

“Estamos em um momento crucial e, de certa forma, parece uma sequência de sonhos”, disse Niki Werkheiser, diretora de maturação tecnológica da NASA, em matéria ao The New York Times. “Por outro lado, parece que era inevitável que chegássemos aqui”.

Projeto Olimpo

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Para tornar seu Projeto Olimpo uma realidade, a NASA se aliou a uma empresa de tecnologia chamada Icon, com sede em Austin (Texas, EUA), que utiliza impressoras 3D para construir casas na Terra de forma mais rápida e sustentável do que os métodos tradicionais. No momento, a empresa já construiu 100 estruturas em 3D, tanto na sua cidade natal, quanto em outras, visando ajudar as pessoas desabrigadas e de baixa renda, e também proteger outras que procuram casas mais resistentes a furacões. 

A agência espacial acredita que essa técnica de construção seria essencial para as casas na Lua, uma vez que sua aplicação poderia ser por meio de utilização de recursos "in-situ", ou seja, usar materiais no seu destino.

Isso não seria tudo, afinal, morar na Lua é tão complexo quanto chegar até ela. A empresa, que tem parceria com a NASA desde 2020 e recebeu US$ 60 milhões para criar sistemas de construções lunares, planeja usar poeira, rochas e fragmentos minerais da superfície da Lua para criar a substância semelhante ao concreto que constituirá as casas e outros edifícios. Tudo para tornar as construções menos vulneráveis à poeira pontiaguda e tóxica da Lua.

A impressora desenvolvida sob uma tecnologia especial da Icon será testada ano que vem no Marshall Space Flight Center da NASA, um centro de pesquisas especializado em foguetes e sistema de propulsão de espaçonaves, para ver como ela lida com as condições de vácuo, temperaturas extremas e os níveis de radiação lunar. 

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

Ainda que seu desempenho seja aprovado pelas diretrizes, a impressora só poderá ir para a Lua quando uma plataforma de pouso for construída para que, quando os foguetes pousem, a poeira lunar se espalhe e suas consequências sejam mitigadas.

Apesar de o Projeto Olimpo parecer avançado, ainda há muito a ser solucionado. Não está claro, por exemplo, o quão durável será o material em 3D usado nas construções. A poeira lunar é conhecida por ser muito abrasiva, e há preocupação de que os materiais, inclusive, possam acabar danificando a impressora e outros hardwares.

Com duas décadas de prazo de entrega, a NASA acredita que é tempo o suficiente para resolver todos os problemas até 2040.

Vivendo na Lua

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

“Temos todas as pessoas certas juntas no momento certo com um objetivo comum, e é por isso que acho que chegaremos lá”, disse Werkheiser. “Todos estão prontos para dar esse passo juntos, então se desenvolvermos nossas principais capacidades, não há razão para que isso não seja possível”.

Os cientistas concordam que a NASA está no caminho certo, e que o projeto vai acontecer se eles se manterem firmes a sua benchmark até o fim. A princípio, o Projeto Olimpo visa abrigar astronautas, mas seu objetivo é formar um contingente de civis estadunidenses para viverem para sempre em solo lunar.

É para isso que a agência espacial está trabalhando com universidades e empresas privadas na criação de utensílios domésticos, que vão desde portas a azulejos e móveis.

(Fonte: GettyImages/Reprodução)(Fonte: GettyImages/Reprodução)

“Se esses objetos sobreviveram às nossas câmaras, é muito provável que sobreviva ao espaço”, disse Victor Pritchett, diretor de fluidos experimentais e teste ambiental da Marshall.

Antes de todo o Projeto Olimpo dar o primeiro passo experimental, é necessário que a NASA, primeiro, estabeleça os astronautas na Lua. Se tudo correr conforme o planejado, a missão Artemis 2 os enviará à órbita lunar em 2024. Até 2025 ou 2026, a missão Artemis 3 deverá pousar no polo Sul lunar, com a ajuda da nave da SpaceX, consagrando, finalmente, a volta dos humanos à superfície da Lua.

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